sábado, 26 de abril de 2014

O Espírito Santo – Parte 2
EBD-Jovens 16/02/2014 – Igreja Batista Emanuel

Baseado na obra de O Espírito Santo, de John Owen e no comentário expositivo de John Gill.


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https://www.dropbox.com/s/fhwyougt3xike2i/o_esp%C3%ADrito_santo_parte2_16-02-2014.pdf

Introdução


Na última aula começamos a série de estudos sobre o Espírito Santo. Quero que vocês relembrem alguns pontos importantes: o que é sentir o Espírito? O que é ser guiado pelo Espírito? No final da aula falamos um pouco sobre o Espírito Santo e obra da salvação.

Hoje falaremos rapidamente sobre a Obra do Espírito na Criação e em seguida, sobre a Obra do Espírito no Antigo Testamento, especificamente, sobre o papel da profecia antes da vinda de Cristo.

A Obra do Espírito na Antiga Criação


Dizemos que Deus criou todas as coisas. Devemos nos lembrar, porém, que isso não se refere apenas ao Deus Pai; as três Pessoas da Trindade são indivisíveis em suas operações e atos, pela mesma vontade, sabedoria e poder (ou seja, cada um não faz o que quer independente da vontade do outro). Portanto, cada Pessoa da Trindade é autor de qualquer obra de Deus, porque cada Pessoa é Deus e a natureza divina também é indivisível, assim como operações divinas. Isso decorre da unidade das três Pessoas na mesma essência. Porém, há diferenças quanto à subsistência e a maneira como cada obra é atribuída a cada Pessoa. A criação do mundo, por exemplo, é atribuída ao Pai como Sua obra (At.4:24 – aqui Deus é o Pai de Jesus Cristo, como pode ser observado no vs.27), ao Filho (Jo.1:3) e também ao Espírito (Jó 33:4). O começo de toda operação divina é atribuído ao Pai – dele, através dele e para Ele são todas as coisas (Rm.11:36); a existência, o estabelecimento e o sustento de todas as coisas é atribuído ao Filho – Ele é antes de todas as coisas e todas as coisas subsistem por Ele (Cl.1:17); e a finalização de todas as coisas atribuído ao Espírito. Isso não quer dizer que uma Pessoa da Trindade começa sua obra onde a outra parou pois cada obra e cada parte das obras divinas é a obra de Deus ou seja, de toda a Trindade, inseparável e indivisível.

As obras de Deus podem ser divididas em duas categorias:
·         Obras da natureza;
·         Obras da graça.
Vamos considerar a atuação do Espírito em cada uma.



Obras da Natureza


Ao Espírito Santo é atribuída a obra da criação, por Ele completada e terminada (Jó 26:13 – “pelo Seu Espírito ornou os céus”). Veja Sl.8:3; o que é o dedo de Deus? Comparar Mt.12:28 e Lc.11:20. Ou seja, o Espírito de Deus adornou os céus, o enfeitou e embelezou para declarar a glória e a sabedoria de Deus (Sl.19:1).

O mesmo se deu na criação da Terra (sem forma e vazia; e com trevas sobre a face do abismo – Gn.1:2), uma massa de material sólido e água que provavelmente o cobria; terra e água que foram posteriormente divididos em terra seca e mar. O mesmo versículo registra que o Espírito de Deus se movia (ou pairava) sobre a face das águas. A palavra usada aqui para “mover” em hebraico é מְרַחֶ֖פֶת (merachepheth), que significa um movimento suave e agradável, como uma pomba ou a uma ave que acolhe os filhotes no ninho, fornece o calor necessário aos ovos e os protege (como em Dt.32:11); e não “vento de Deus” que é forte e poderoso para destruir (Jó 4:9). O Espírito Santo estava ordenando e dando forma à matéria do mesmo jeito que havia ordenado o céu (ver Jó 26:13) para dá-la virtude e torná-la apta a produzir criaturas vivas nela; para que ao comando de Deus fossem criadas todas as criaturas em abundância, de acordo com o princípio de vida que foi comunicado à matéria rude, ao caos informe, pelo mover do Espírito (Sl.54:30).

Obras da Graça


O vs.7 de Gn.2 diz que Deus soprou o “fôlego de vida” que é a metáfora para Espírito de Deus, ou seja, a criação da alma do homem foi obra imediata do Espírito de Deus (Jó 33:4). A criação das partes essenciais da natureza homem, corpo e alma é atribuída ao mesmo autor, pois o Espírito de Deus e o fôlego de Deus são os mesmos.

A alma do homem foi criada capaz de viver para Deus, para discernir a vontade de d’Ele, com disposição parar cumprir as leis de Deus gravadas no coração e abster-se do pecado.

Porém, o homem caiu em dois sentidos:
·         Naturalmente (com relação às partes essenciais do ser – vida recebida do sopro de Deus, a inteligência, os sentidos, etc. – Gn.2:7);
·         Moralmente (com relação aos princípios de obediência às leis de Deus – Gn.1:26-27; Ec.7:29).


Como veremos adiante, o Espírito restaura aquelas habilidades em nossas mentes, na renovação da imagem de Deus; Ele opera isso nos eleitos. Esses então dão o fruto do Espírito (Ef.5:9; Gl.5:22)
Obs.: sabemos que o objetivo principal do homem é glorificar a Deus (ICo.10:31), e ter comunhão com Ele para sempre (Sl.73:25-26), para isso ele foi criado.

Além disso, o Espírito de Deus preserva e mantém todo o universo poderosa e eficazmente com providência Divina.

As Obras do Espírito Santo no Antigo Testamento


Em geral, as obras do Espírito no Antigo testamento em sua maioria, senão absolutamente e sempre, tem a ver com nosso Senhor Jesus Cristo e o evangelho, elas prepararam o caminho da grande obra da nova criação n’Ele e por Ele. Essas obras podem ser divididas em duas categorias:

·         As extraordinárias, que excediam totalmente a capacidade natural do homem
Essas podem ser subdivididas em:
1 – profecia;
2 – inspiração para redigir a Escritura;
3 – milagres.

·         As que elevavam alguma habilidade do homem em determinadas ocasiões
Essas, por sua vez podem ser subdivididas em:
               1 – capacidade política para governar entre os homens;
               2 – em coisas morais como caráter e coragem;
               3 – em coisas naturais como aumento da força do corpo;
               4 – em capacidade intelectual.

A Profecia no Antigo Testamento


O primeiro dom do Espírito Santo no Antigo Testamento, o qual teve relação mais direta e imediata a Jesus Cristo, foi a profecia. O maior e principal fim deste instrumento na igreja era dar testemunho d’Ele, de Seus sofrimentos e de Sua glória; ou para apontar aquilo que deveria ser observado na adoração divina que poderiam ser tipos que O representariam (1Pe.1:9-12). As profecias davam testemunho da verdade de Deus na primeira promessa quanto à vinda da bendita Semente (Gn.3:15); e não apenas isto, mas também quando e da maneira como a vinda de nosso Senhor se daria bem como a condição do povo de Deus naqueles dias.

A comunicação do dom da profecia se deu de forma progressiva desde que o mundo foi criado. Continuou sem interrupção até que se completasse o Canon do Antigo Testamento, quando cessou na comunidade Judaica. Depois disso reapareceu com João Batista, com uma abordagem ainda mais próxima do Senhor Jesus Cristo, o motivo de todas as profecias (Lc.1:68-80).

Vamos considerar agora os textos de 2Sm.7 e 2Sm.12 e observar como as profecias estavam direta ou indiretamente ligadas à Cristo ou ao evangelho.

2 Samuel 7 – A aliança Davídica


Davi desejou de coração (vs.3 - “tudo quanto está no teu coração”) construir o Templo. Natã certamente viu que o desejo do rei era sincero e achou que Deus se agradaria daquilo. É possível que o profeta considerasse que o fato de o Senhor ter dado “descanso de todos os inimigos” (vs.1) era um sinal de que Deus aprovava ou aprovaria tudo que Davi fazia ou faria, e que aquela era uma boa ocasião para a construção da “casa do Senhor”. Provavelmente, após o encorajamento de Natã, Davi escreveu o Salmo 132. Porém, nem Davi nem Natã haviam consultado a Deus sobre aquilo; a palavra de Natã (no vs.3) não era da parte de Deus, ou seja, não era uma profecia, mas o que estava na mente do profeta. Deus não permitiria que Davi construísse o Templo (vs.5 - “tu”; ver 1Cr.22:8).

Cabe aqui um parêntese: a verdadeira profecia não é fruto do entendimento humano por melhores que sejam as intenções, nem daquilo que o homem acha ser melhor ou mais proveitoso; a verdadeira profecia é inspiração do Espírito Santo, é a revelação da vontade soberana de Deus.

Embora Deus tenha proibido Davi de construir o templo, no vs.8 Ele lembra a Seu servo de Sua bondade que o levou do campo ao palácio e de como o havia engrandecido no trono.

A partir do vs.11 caminhamos para o cerne da profecia de Natã. Temos nesse versículo uma mudança de cenário, uma inversão de agentes: não se trata mais de Davi estabelecer a casa de Deus, mas de Deus estabelecer a casa de Davi. Os versículos 12, 13 e os subsequentes se referem a Salomão, porém, devemos ter em mente que ele era um antítipo/figura do Messias (Zc.6:12; Jr.23:5 e Is.4:2 – o Renovo de Davi e a construção do Templo; Jesus filho de Davi o cabeça, a pedra angular, o fundamento e fundador da Igreja). No vs.14, novamente uma referência a Salomão e à Jesus (Mt.3:17). É importante lembrar aqui que a parte “b” do versículo não se aplica a Cristo, que não pecou nem conheceu pecado, mas foi feito pecado por imputação. E finalmente, a chave da profecia, o estabelecimento da Aliança de Deus com Davi: o vs.16 faz referência ao reinado eterno de da casa de Davi, reinado que foi estabelecido e completado em Cristo, que reina e reinará por toda eternidade (comparar vs.16 - “tua casa” e “teu reino” com 1Cr.17:14 – “minha casa” e “meu reino”).

2 Samuel 12 – A Fidelidade de Deus à Sua Própria Aliança


Davi havia cometido adultério e assassinato e o arrependimento não veio instantaneamente, embora sofresse continuamente por causa do pecado e da consequente falta de comunhão com Deus.  Deus enviou o profeta Natã para fazê-lo se arrepender publicamente de seu pecado. Nessa ocasião Davi escreveu o Salmo 51.

A figura dos dois homens do vs.1 é uma clara referência à Davi e Urias. No vs.2, rebanhos e manadas significa as muitas esposas e concubinas do rei (seis esposas apenas em Hebron). No vs.4, embora alguns pensem que o viajante seja satanás vindo com tentações procurando a quem possa devorar, os Judeus consideram que sejam as imaginações más e a concupiscência que despertaram as paixões carnais de Davi e o fizeram querer saciar-se com a mulher de outro homem. Quando seu coração se inflamou ao ver Bate-Seba, ele não procurou por suas esposas ou concubinas, mas satisfez seus desejos pecaminosos.

No vs.5, não tendo Davi percebido que a parábola se tratava dele, se irou por considerar o crime tão cruel e bárbaro. Na lei mosaica o roubo não era passível de morte, mas de restituição. Note que Natã não havia mencionado que o homem rico além de roubar, também matou o pobre. Em seguida, Davi estabelece uma pena como ordenado na lei (vs.6, Ex.22:1 – note que Davi sofreu por causa de quatro de seus filhos: o que morreu de Bate-Seba, Amnon, Tamar e Absalão; Adonias morreu depois de haver Davi também morrido).

No vs.9 Davi é condenado por quebrar o sexto e o sétimo mandamentos. O versículo 10 e os posteriores são a chave para entender como a profecia está ligada a Cristo. De acordo com a lei mosaica o homem e a mulher que cometessem adultério morreriam ambos (Lv.20:10). Davi não estava livre da lei por ser rei da nação, pelo contrário, deveria ser exemplo de retidão; segundo a lei, Davi deveria ter sido condenado à morte. Porém, Deus pela sua infinita graça e misericórdia, preservou Davi para que se cumprisse Sua aliança estabelecida anteriormente (o trono de Davi permaneceria para sempre).

 Não devemos considerar, entretanto, que Deus livrou Davi da condenação e o deixou impune: primeiro porque o próprio fato de estar afastado de Deus foi penoso para ele; segundo porque a pena de morte que deveria ter sofrido, recaiu sobre seus filhos, aquele que tivera com Bate-Seba mais imediatamente (vs.15 - “o Senhor feriu a criança que a mulher de Urias dera a Davi, de sorte que adoeceu gravemente”) e em seguida, Amnon, Absalão e Adonias.

Conclusão


Como dito anteriormente, a maioria, senão todas as profecias do Antigo Testamento apontam para Cristo ou o evangelho. As profecias eram inspiradas pelo Espírito e nelas não havia engano ou imprecisão. Aqueles que profetizavam tinham profunda certeza de que haviam recebido entendimento divino.