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A
parábola do trigo e do joio
Rafael Abreu
"Propôs-lhes
outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante ao homem
que semeia a boa semente no seu campo; Mas, dormindo os homens, veio
o seu inimigo, e semeou joio no meio do trigo, e retirou-se. E,
quando a erva cresceu e frutificou, apareceu também o joio. E os
servos do pai de família, indo ter com ele, disseram-lhe: Senhor,
não semeaste tu, no teu campo, boa semente? Por que tem, então,
joio? E ele lhes disse: Um inimigo é quem fez isso. E os servos lhe
disseram: Queres pois que vamos arrancá-lo? Ele, porém, lhes disse:
Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com
ele. Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da
ceifa, direi aos ceifeiros: Colhei primeiro o joio, e atai-o em
molhos para o queimar; mas, o trigo, ajuntai-o no meu celeiro."
- Mt.13:24-30
"Então,
tendo despedido a multidão, foi Jesus para casa. E chegaram ao pé
dele os seus discípulos, dizendo: Explica-nos a parábola do joio do
campo. E ele, respondendo, disse-lhes: O que semeia a boa semente, é
o Filho do homem; O campo é o mundo; e a boa semente são os filhos
do reino; e o joio são os filhos do maligno; O inimigo, que o
semeou, é o diabo; e a ceifa é o fim do mundo; e os ceifeiros são
os anjos. Assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será
na consumação deste mundo. Mandará o Filho do homem os seus anjos,
e eles colherão do seu reino tudo o que causa escândalo, e os que
cometem iniqüidade. E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali
haverá pranto e ranger de dentes. Então os justos resplandecerão
como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça."
- Mt.13:36-43
INTRODUÇÃO
As sete
parábolas do capítulo 13 foram ensinadas em um momento em que a
oposição dos líderes religiosos a Jesus era crescente. Estas estão
relacionadas entre si e por meio delas, Jesus explicou a seus
discípulos as consequências de seu ministério.
A primeira parábola (vs.1-23) descreve a pregação do
evangelho; nela, a semente é a própria Palavra e o solo é o
coração do homem. Nela, confirma-se que, embora seja pregado a
muitos, esse evangelho não encontra muitas terras férteis; muitos
são chamados para produzirem frutos, mas poucos frutificarão: "Pois
muitos são chamados, mas poucos são escolhidos" (Mt.22-14);
muitos são chamados para ouvirem, mas poucos ouvirão: "Quem é
de Deus escuta as palavras de Deus; por isso vós não as escutais,
porque não sois de Deus" (Jo.8:47).
Por sua vez, a parábola do trigo e do joio, começa
com a expressão “o reino dos céus é semelhante” (vs.24). Aqui,
“o reino dos céus” não é o mundo glorioso que esperamos por
vir, o paraíso, pois no lá não existe joio. Porém, o reino
trazido pela distribuição do evangelho, assim como pregava João
Batista: “[...] porque é chegado o reino dos céus” (Mt.3:2); é
o reino do Messias que se manifestou à Israel, resultado do seu
ministério na Terra. Essa expressão se refere ao governo de Cristo
que ordena todas as coisas, sustenta, governa e controla tudo como o
cabeça, o Rei, sob cuja autoridade todos estão.
A parábola do
semeador fala dos diferentes tipos de solo; nessa segunda, nos é
dito a respeito dos diferentes tipos de sementes. Nesse contexto o
campo não são os corações, mas o mundo. Portanto, a semente,
aqui, não é a Palavra, mas sim os homens. A respeito disso,
consideraremos a seguir.
I. As sementes são plantadas por quem lhes possui
Existem dois
semeadores, apenas dois. Cada semente ou pertence a um ou pertence a
outro. Não existe meio termo, não existem sementes que não
pertençam a algum deles. Todas já foram preparadas para o plantio e
se manifestarão como filhos de Deus ou filhos do maligno: “Nisto
são manifestos os filhos de Deus, e os filhos do diabo. Qualquer que
não pratica a justiça, e não ama a seu irmão, não é de Deus”
(1Jo.3:10).
1. As sementes do Filho do Homem.
As sementes
plantadas pelo dono campo são boas. Ele não se engana; nenhuma
semente má é plantada por engano. Ele sabe que todas as sementes
que possui, embora não sejam perfeitas, não se estragam e são boas
porque foram dadas pelo Pai: “E a vontade do Pai que me enviou é
esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca” (Jo.6:39).
Essas sementes não são boas por si mesmas ou porque
uma vez desejaram e se esforçaram para serem boas. Elas estavam
prontas para crescer e darem frutos maus, e serem colhidas para o
fogo, a perdição, mas receberam um atestado de qualidade que foi
emitido na cruz. Foram regadas com sangue do Cordeiro que as fez
própria para o plantio. Apesar de terem nascido estragadas, foram
regeneradas pelo Espírito de Deus, segundo a vontade daquele que as
criou: “Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da
incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para
sempre” (1Pe.1:23). Elas têm a vida porque a Palavra está nelas e
a Palavra é vida: “Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a
vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (Jo.11:25)
e “Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a
vida eterna a todos quantos lhe deste” (Jo.17:2)
2. As sementes do maligno.
As outras
sementes são más. Elas não foram criadas pelo maligno, mas foram
corrompidas. Elas são plantadas pelo maligno. Crescem e frutificam,
mas aí não há vida verdadeira pois essas sementes não têm vida
que flui daquele que é a vida. Seu “fruto” é o joio que para
nada serve; seu único fruto é a rebelião contra Deus, o pecado
cujo salário é a morte: “Porque o salário do pecado é a morte
[...]” (Rm.6:23).
Esses são os que não creem em Cristo, que já
nasceram mortos e continuarão mortos. São surdos e, ainda que
estejam aqui, nesse momento ouvindo a Palavra, não ouvem
verdadeiramente.
3. Os frutos revelarão quem é filho de Deus e quem
é filho do Maligno.
E, quando a erva cresceu e frutificou, apareceu
também o joio. (vs.26)
O joio está junto ao trigo desde os primeiros
momentos, mas só é percebido quando o trigo floresce e dá frutos.
Cada semente
possui as características daquele que a plantou. As que foram
plantadas pelo Bom Agricultor ouve a voz deste quando é dito:
“Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento” (Mt.3:8) e dão
frutos para vida: “Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz,
longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança”
(Gl.5:22). As sementes boas guardam em si os mandamentos do Senhor:
“E aquele que guarda os seus mandamentos nele está, e ele nele. E
nisto conhecemos que ele está em nós, pelo Espírito que nos tem
dado” (1Jo.3:24); essas sementes são como as ovelhas que
reconhecem a voz do seu Pastor e o segue: “As minhas ovelhas ouvem
a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem” (Jo.10:27).
Por sua vez, as sementes más produzem frutos maus, os
quais são: “adultério, prostituição, impureza, lascívia,
idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras,
pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices,
glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos
declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não
herdarão o reino de Deus” (Gl.5:19-21). Esses que foram plantados
por satanás satisfazem aos desejos dele: “Vós tendes por pai ao
diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida
desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há
verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio,
porque é mentiroso, e pai da mentira” (Jo.8:44)
As sementes que pertencem a Deus, ainda que por algum
tempo permaneçam nas mãos do diabo, serão tomadas dele. Isto é,
aqueles dentre vocês que ainda não creram em Cristo que é o único
capaz de torná-los pessoas boas, estão nas mãos do maligno,
sujeitos ao pecado, escravos dele: “Em que noutro tempo andastes
segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do
ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre
os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa
carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por
natureza filhos da ira, como os outros também.” (Ef.2:2-3). Mas se
crerem no evangelho, se arrependerem e abandonarem o pecado, isso
significa que vocês não são sementes mortas em si mesmas, mas têm
a vida dada pelo Bom Semeador “Estando nós ainda mortos em nossas
ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois
salvos)” (Ef.2:5)!
II. O joio será preservado por um momento para o bem
do trigo
Satanás não pode arrancar as boas sementes. Ele usa
outra estratégia para tentar frustar os planos do Senhor; planta
impostores, falsificações; são aqueles que estão na igreja e têm
aparência de piedade, mas não são piedosos: “Sem afeto natural,
irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor
para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos
deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas
negando a eficácia dela. Destes afasta-te” (2.Tm.3:3-5); têm
aparência de ovelhas mas são lobos: “Acautelai-vos, porém, dos
falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas,
interiormente, são lobos devoradores” (Mt.7:15)
1. O Dono do campo sabe que sementes más foram
semeadas.
Mas, dormindo os
homens, veio o seu inimigo, e semeou joio no meio do trigo, e
retirou-se. (vs.25)
E
ele lhes disse: Um inimigo é quem fez isso. (vs.28)
O sono descrito aqui é um sono espiritual. Note que o
versículo não diz que o Semeador dormiu; a palavra dormir se refere
aos homens, pois: “Eis que não tosquenejará nem dormirá o guarda
de Israel” (Sl.121:4). Portanto, o sono aqui, assim como na
parábola das dez virgens (Mt.25) é o sono dos homens salvos, dos
piedosos, dos ministros de Deus e da Igreja. Esse sono é o
contentamento com a aparência de piedade; com a omissão; a falta de
oração; a carência de conhecimento bíblico; e, por causa desse
sono, satanás plantará no campo suas sementes.
Entretanto, devemos nos lembrar que o Senhor sabe que
as sementes más estão entre as boas. Ele é o conhecedor do coração
dos homens e sabe por quem cada semente foi plantada, se por Ele, ou
se pelo maligno. O Senhor não pode ser surpreendido, Ele sabe todas
as coisas pois Ele mesmo declarou que tudo deveria acontecer desta
forma.
2. É permitido ao joio crescer mas o trigo é
preservado
Satanás não
têm autoridade alguma ou poder algum para destruir a plantação do
Senhor. Se ele ataca, é porque o Senhor permite (assim como no caso
de Jó), e o Senhor permite para Sua própria glória.
Muitos de vocês que estão aqui hoje acham que são
trigo, que são filhos de Deus, santos, mas nada mais são que joio;
são sementes plantadas pelo diabo. Alguns há anos frequentam os
cultos e ouvem a palavra, mas seus corações são duros como a
pedra, são obstinados; estão aqui para satisfazer seus próprios
desejos e não para glorificar a Deus. Seus ouvidos estão tapados;
tudo que fazem é produzir frutos podres e tentar atrapalhar o
crescimento do trigo, que foi plantado pelo Senhor. O diabo usa suas
línguas e suas atitudes para tentar destruir aqueles que pertencem a
Deus.
Mas ouçam: vocês não deixarão de serem arrancados
porque o Dono do campo não o pode fazer, se isso fosse de Sua
vontade eles já teria arrancado as sementes más dentre os Seus;
vocês estão aí para o bem dos filhos de Deus e não para o mal,
para glória d'Ele e não para a glória de satanás. Enquanto vocês
praticam obras más, os filhos de Deus são ensinados a amarem; a
terem paciência; a perseverarem na fé dando graças pelas
tribulações; são ensinados a confiarem no seu Senhor. Os filhos de
Deus são preservados pois o próprio Deus os sustenta: “Estando eu
com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles
que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da
perdição, para que a Escritura se cumprisse” (Jo.17:12)
É permitido que vocês fiquem e cresçam no meio dos
filhos de Deus até que venha a hora.
III. O trigo e o joio serão separados
O joio não
permanecerá entre o trigo para sempre; não haverá joio na morada
eterna. Não haverá engano: nenhuma boa semente será lançada fora
e nem uma semente má escapará do fogo.Vocês que não obedecem ao
Senhor e aos Seus mandamentos, que não creem nas escrituras nem se
arrependem do mal que têm praticado, podem se enganar aqui, vivendo
entre os filhos de Deus, mas chegará a hora em que estes dois grupos
de indivíduos serão separados. Vocês podem enganar os ministros e
os santos, mas não enganarão ao Senhor que conhece cada semente.
Ele próprio dará ordem aos anjos para que vocês sejam retirados de
Sua presença e lançados fora. Esta será a hora de sofrimento para
aqueles que causam pecados: “Ai do mundo, por causa dos escândalos;
porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por
quem o escândalo vem” (Mt.18:7)
1. Os filhos do maligno nada poderão fazer pois
estarão atados. Eles serão lançados no fogo pelos anjos do Senhor
Não haverá
nada que os homens maus poderão fazer pois eles estarão atados
(vs.30). Naquela hora eles entenderão que não deviam ter procurado
escapar do inferno, mas das mãos do Senhor. Eles não sofrerão a
ira de satanás, mas a ira do próprio Deus. Não haverá lugar para
onde correr, onde se esconder; nem tempo para arrependimento. Os
anjos obedecerão a ordem do Senhor, do Dono do campo. Tudo que
restará agora será uma terrível dor eterna. O castigo será
infinito porque o Deus, cuja glória infinita ofenderam com o pecado,
é um Deus infinito, de justiça infinita; logo, sua ira sobre eles
também será infinita.
2. Os filhos de Deus serão reunidos em Seu celeiro.
Contudo, os
filhos de Deus saberão que foram salvos. Se alegrarão eternamente
por terem sido salvos não do inferno, mas da ira de Deus. Eles serão
gratos eternamente a Cristo, que sendo infinito, suportou a ira
infinita de Deus no lugar deles. Desfrutarão a bondade infinita do
Senhor, sua graça e amor infinitos, para sempre. No seu celeiro, o
paraíso, não haverá mais ervas daninhas nem pragas perniciosas;
este celeiro é o lugar preparado para o trigo, ali a alegria será
perfeita e completa.
CONCLUSÃO
Esta
parábola foi ensinada para que soubéssemos que a Igreja que vemos,
a terrena, não é composta apenas por santos de Deus. Porém, o
objetivo aqui não é que cruzemos os braços e obsevemos os falsos
cristãos causarem o pecado, mas pelo contrário, devemos estar
atentos às obras de satanás; através desse ensinamento os
ministros e os santos são exortados a lutarem contra o sono, e punir
todo pecado na congregação (a exemplo de 1Co.5) sabendo, contudo,
que ainda que não consigam purificar por completo esta igreja, o
Senhor o fará.
Também através desta parábola, podemos encontrar:
a) conforto, ao saber que os que creem são levados a
confiar em Deus quem os plantou e preserva. Isso significa que,
estes, ainda que sofram as consequências do pecado nesse mundo, nada
poderá lhes arrancar, mas serão recolhidos no celeiro de Deus.
b) angústia, ao saber que se não fomos regenerados (se
nossos frutos não são bons) seremos lançados fora.