segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Às Moças

Renan Abreu


            Presenciei cenas que me fizeram pensar como temos desonrado a Deus, por isso uma tristeza enorme abateu meu coração. Este texto não é algo que eu diga: “Oh! Veio a mim por revelação, algum sopro misterioso” e muito menos “Veio a mim sonhos da parte de Deus”; antes, foi tão somente uma reflexão após a leitura de alguns posts do Facebook. É de grandíssimo desejo para mim que as palavras descritas abaixo reflitam o amor que tenho pelos jovens cristãos; não que isto limite a leitura aos jovens, pois desejo que seja de proveito para toda a igreja de Cristo. Percebam também que não me julgo melhor que ninguém, antes, confesso que careço da glória de Deus como qualquer outro jovem. Faço das palavras do apóstolo Paulo as minhas: “Miserável homem que sou”, não obstante, digo: “Graças a Deus por Cristo Jesus”!

            Quão preocupante se tornou as publicações de fotos e frases no Facebook. Por acaso esqueceram a quem servem? Ou a quem devem honra? Será se Cristo é, de fato, glorificado com as postagens? Vocês se esqueceram das palavras do apóstolo Paulo? “Quer comais, bebais ou façais qualquer outra coisa façam para a glória de Deus”! Por acaso, Deus é glorificado quando vocês postam fotos sensuais ou frases obscenas? As mulheres, cometem um grave pecado quando publicam fotos que denigrem seus próprios corpos. Fotos com seios, coxas, barrigas, pernas e outras partes do corpo despidas e que induzem o pecado nos homens. Não entendem que estão despertando os adolescentes para pensamentos impuros, os rapazes para o sexo egoísta e os homens casados para o divórcio. Esse pecado é grave e trará a ira de Deus! Entristeço, quando na igreja, moças lindas provocam o pecado sexual. Decotes que mostram grande parte dos seus corpos. Parece-me que não conhecem o provérbio de Salomão: “Como um anel de ouro em um focinho de porco, assim é a mulher bonita mas indiscreta”.

            Vocês estão adorando seus próprios corpos, preocupadas com malhação, silicones, enfeites mil e se esqueceram que o coração cheira mal como carne podre. Não percebem que a “beleza é passageira” mas a alma é eterna? Precisamos entender que os escândalos, como a própria palavra de Cristo afirma, serão inevitáveis, mas “aí por quem vier os escândalos”. É necessário vigiar para não provocarmos a morte de algum próximo. Queiram possuir a beleza intrínseca que vem apenas da Glória do Pai. Além do mais, os corpos de vocês devem ser o templo do Espírito Santo. É no mínimo incoerente o templo de Cristo permanecer sujo! Cristo há de limpá-lo! Entenda que se não houver arrependimento Ele executará uma severa disciplina porque “Deus disciplina a quem Ele ama”. Não por vergonha ou medo mas por amor a Cristo, retirem suas fotos sensuais, de cunho pornográfico ou que despertam, de alguma forma, a corrupção moral do homem. Isto é muito sério, não foi por pouca coisa que José, quando atraído por uma bela mulher, fugiu. Não é sem razão que a bíblia manda que seus filhos fujam da prostituição. Mulheres, o homem tem uma fraqueza muito grande neste quesito; se não for o Espírito Santo para vencer por nós, jamais venceremos! Reflitam sobre isso, se é perigoso para os filhos de Deus – vejam o exemplo de Davi – quanto mais aos que não conhecem Cristo!


            Para concluir, suplico, mantenham suas vidas guiadas pelas palavras de Jesus. Criem o hábito de manter uma meditação diária da bíblia. Procurem a santificação no livro de Provérbios. Pensem na paixão de Cristo, nos evangelhos. Meditem no amor das cartas pastorais de Paulo. Lembrem-se da ira de Deus no Pentateuco. Pasmem com a destruição de Judá e Israel em II Reis. Alegrem-se na salvação e glorificação final de e em Cristo! Não entreguem seus corpos a Satanás, pelo contrário, Sejam Santas porque Nosso Deus É Santo.

Um Chamado à Triagem Teológica e Maturidade Cristã

R. Albert Mohler Jr.
(Tradução: Rafael Abreu)


Em todas as gerações, a igreja é ordenada a “batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos.” Essa não é uma tarefa fácil, e é dificultada pelos múltiplos ataques às verdades Cristãs que marcam a era contemporânea. Investidas contra a fé Cristã não são mais direcionadas apenas a doutrinas isoladas. Toda estrutura da verdade Cristã está, agora, sob ataque por aqueles que subvertem a integridade teológica do Cristianismo.

Os Cristãos de hoje se deparam com a assustadora tarefa de elaborar estratégias que priorizem doutrinas Cristãs e questões teológicas em termos de nosso contexto contemporâneo. Isso se aplica tanto à defesa pública do Cristianismo em vista do desafio secular e da responsabilidade interna de lidar com divergências doutrinárias. Nenhuma delas é tarefa fácil, mas a seriedade teológica e a maturidade demandam que consideremos questões doutrinárias em termos de sua relativa importância. A verdade de Deus deve ser defendida em todo ponto e em cada detalhe, mas Cristãos responsáveis devem determinar quais questões merecem maior atenção em um tempo de crise teológica.

Há alguns anos, uma ida ao atendimento de emergência de um hospital, me alertou para uma ferramenta intelectual muito útil para a realização de nossa responsabilidade teológica. Recentemente médicos de emergência têm praticado uma disciplina conhecida como triagem – um processo que permite o pessoal treinado a fazer uma rápida avaliação da prioridade médica em questão. Dado o caos da área de atendimentos de urgência, alguém deve estar munido de expertise médica para determinar imediatamente a prioridade médica. Quais pacientes devem ser encaminhados à cirurgia? Quais pacientes podem esperar por um exame menos urgente? Os médicos não podem hesitar ao fazerem essas perguntas, e ao assumir a responsabilidade de dar os pacientes com necessidades mais críticas prioridade mais alta em termos de tratamento.

A palavra triagem vem da palavra francesa “trier”, que significa “classificar”. Desse modo, o responsável pela triagem no contexto médico é o agente da linha de frente para decidir quais pacientes precisam de tratamento mais urgente. Na ausência de tal processo, o joelho esfolado seria considerado tão urgente quanto um ferido à bala no peito. A mesma ideia que traz ordem à agitada arena do atendimento de emergência também pode oferecer grande ajuda aos Cristãos que defendem a fé nos dias presentes.

Uma disciplina de triagem teológica requer que Cristãos determinem uma escala de urgência teológica que corresponde ao quadro do mundo da medicina para prioridades médicas. Com isto em mente, sugiro três diferentes níveis de urgência teológica, cada uma correspondente a um conjunto de questões teológicas prioritárias encontradas em debates doutrinários.

Questões teológicas de primeiro nível incluiriam aquelas doutrinas mais centrais e essenciais à fé Cristã. Entre estas doutrinas mais cruciais estariam aquelas tais quais a da Trindade, a completa deidade e humanidade de Jesus Cristo, justificação pela fé, e a autoridade da Escritura.

Nos primeiros séculos do movimento Cristão, hereges direcionaram seus mais perigosos ataques ao entendimento da igreja sobre quem Jesus é, e em que sentido Ele é o próprio Filho de Deus. Outro debate crucial se preocupou com a questão de qual a relação do Filho com o Pai e o Espírito Santo. Os antigos credos e concílios da igreja foram, em essência, medidas de emergência tomadas para proteger o âmago da doutrina Cristã. Em momentos importantes da história tais como o concílio de Nicéia, Constantinopla, e Calcedônia, a ortodoxia foi reivindicada e heresias foram condenadas – e estes concílios lidaram com doutrinas de importância inquestionável. O Cristianismo permanece ou cai dependendo do que se afirmar sobre Jesus Cristo ser completamente homem e completamente Deus.

A igreja se moveu rapidamente para afirmar que a completa divindade e completa humanidade de Jesus Cristo são absolutamente necessárias para a fé Cristã. Qualquer negação do que se tornou conhecido como Cristologia de Nicéia-Calcedônia é, por definição, condenada como heresia. As verdades essenciais da encarnação incluem a morte, sepultamento, e a ressureição do corpo do Senhor Jesus Cristo. Aqueles que negam estas verdades reveladas são, por definição, não Cristãos.

O mesmo é verdade para a doutrina da Trindade. A igreja primitiva clarificou e codificou seu entendimento do único Deus vivo afirmando a completa divindade do Pai, do Filho, e do Espírito Santo – enquanto que insistia que a Bíblia revela um Deus em três pessoas.

Além das doutrinas Cristológica e Trinitariana, a doutrina da justificação pela fé deve, também, ser incluída entre estas verdades de primeiro escalão. Sem estra doutrina, somos deixados com uma negação do próprio evangelho, e a salvação é transformada em alguma justiça humana. A veracidade e autoridade das Sagradas Escrituras deve também ser considerada como doutrina de primeira ordem, pois, sem a afirmação de que a Bíblia é a própria Palavra de Deus, somos deixados sem nenhuma autoridade adequada para distinguir verdade do erro.

Estas doutrinas de primeira ordem representam as verdades mais fundamentais da fé Cristã, e a negação destas doutrinas representa nada menos que a negação do Cristianismo em si mesmo.
O conjunto de doutrinas de segunda ordem é distinto do de primeira ordem pelo fato de que Cristãos fiéis podem discordar das questões de segunda ordem, embora esta divergência crie divisões significativas entre os crentes. Quando Cristãos se organizam em congregações e denominações, estas divisões se tornam evidentes.

Questões de segunda ordem incluem o significado e modo do batismo. Batistas e Presbiterianos, por exemplo, descordam fervorosamente sobre o mais básico entendimento do batismo Cristão. A prática do pedobatismo é inconcebível às mentes dos Batistas, enquanto que os Presbiterianos atribuem o pedobatismo ao seu mais básico entendimento da aliança. Reconhecendo juntos as doutrinas de primeira ordem, Batistas e Presbiterianos avidamente reconhecem uns aos outros como Cristãos, mas reconhecem também que desacordos em questões desta importância impedem a comunhão dentro da mesma congregação ou denominação.

Cristãos das mais variadas denominações podem permanecer juntos nas doutrinas de primeira ordem e reconhecer uns aos outros como Cristãos autênticos, enquanto que o entendimento de que existem divergências em questões de segunda ordem impede uma comunhão mais ávida que de outra forma, desfrutaríamos. Uma igreja reconhecerá o batismo infantil ou não. Esta escolha cria imediatamente um conflito de segunda ordem com aqueles que têm convicção da posição contrária.

Há alguns anos, a questão da mulher servir como pastora emergiu como outra questão de segunda ordem. Novamente, uma igreja ou denominação pode ordenar mulheres ao pastorado ou não. Questões de segunda ordem impedem a fácil adaptação daqueles que preferem a outra abordagem. Muitos das mais calorosas divergências entre crentes sérios se encontram no nível da segunda ordem, pois estas questões enquadram nosso entendimento da igreja e as orientações dadas a ela pela Palavra de Deus.

Questões de terceira ordem são doutrinas sobre as quais os Cristãos podem discordar e, mesmo assim, permanecerem em comunhão próxima, mesmo dentro de congregações locais. Eu colocaria a maioria dos debates sobre escatologia, por exemplo, nessa categoria. Cristãos que afirmam a corpóreo, histórico e vitorioso retorno do Senhor Jesus Cristo podem discordar da sequência dos acontecimentos sem romper a comunhão da igreja. Eles podem discordar sobre um grande número de questões relacionadas à interpretação de textos difíceis ou sobre o entendimento de assuntos de discordância comum. Porém, permanecendo juntos em questões de importância mais urgente, os crentes são capazes de aceitar uns aos outros enquanto questões de terceira ordem estão em debate.

Uma estrutura de triagem teológica não implica que os Cristãos devam considerar qualquer verdade bíblica com pouca seriedade. Somos responsáveis por abraçar e ensinar a veracidade compreensiva da fé Cristã como revelada nas Santas Escrituras. Não há doutrinas insignificantes reveladas na Bíblia, mas existe um fundamento essencial da verdade que embasa todo o sistema de verdade bíblica.

Esta estrutura de triagem teológica também pode ajudar a explicar como a confusão pode, frequentemente, ocorrer em meio a um debate doutrinário. Se a urgência relativa destas verdades não são levadas em conta, o debate pode rapidamente se tornar inútil. O erro do liberalismo teológico é evidente em um desrespeito básico à autoridade bíblica. A marca do verdadeiro liberalismo é a recusa em admitir que questões teológicas de primeira ordem até mesmo existem. Liberais tratam doutrinas de primeira ordem como se fossem meramente de terceira ordem em importância, e ambiguidade doutrinária é o resultado inevitável.

Fundamentalismo, por outro lado, tende ao erro oposto. O equívoco do verdadeiro fundamentalismo é acreditar que todas discordâncias são de primeira ordem. Assim, questões de terceira ordem são colocadas com importância de primeira ordem e Cristãos são erroneamente prejudicialmente divididos.


Viver em uma era em que as doutrinas são amplamente negadas e de intensa confusão teológica, Cristãos estudiosos devem enfrentar o desafio da maturidade Cristã, mesmo em meio de uma emergência teológica. Devemos ordenar as questões com uma mente treinada e coração humilde para proteger o que o Apóstolo Paulo chamou de “tesouro” que foi confiado a nós. Dada a urgência desse desafio, a lição do Atendimento Médico de Urgência só pode ajudar.

domingo, 22 de setembro de 2013

Voltando ao Verdadeiro Culto


R. Albert Mohler Jr.
20 de Setembro, 2013

Em Os Irmãos Karamazov*, o Grande Inquisidor de Fiódor Dostoiévski oferece esta visão da natureza humana caída: “Porque não há para o homem que ficou livre cuidado mais constante e mais doloroso do que o de procurar um ser diante do qual se incline.”

Apesar de o Grande Inquisidor falhar como guia confiável de Teologia, nesse ponto ele está correto. Seres humanos são profundamente religiosos – mesmo quando não sabemos que somos – e buscam incessantemente um objeto de adoração.

Ainda, seres humanos são pecadores, e portanto nosso culto é, com frequência, fundamentado em nosso próprio paganismo de preferência pessoal. O coração humano caído é, de fato, uma “fábrica de ídolos”, sempre produzindo novos ídolos para adoração e veneração. Esta fábrica corrompida, entregue a seus próprio meios, nunca produzirá adoração verdadeira, mas ao invés disso, adorará suas próprias invenções.

Porém os Cristãos são aqueles que foram redimidos pelo sangue do cordeiro, incorporados ao corpo de Cristo e chamados ao verdadeiro culto, regulado e autorizado pela Escritura. Adoração é o propósito para o qual fomos feitos – e apenas os redimidos podem adorar o Pai em espírito e em verdade.

Mas adoramos?

O filósofo britânico Roger Scruton uma vez advertiu seus companheiros filósofos que a melhor maneira de entender o que as pessoas realmente acreditam sobre Deus é observá-las no culto. Livros de Teologia e declarações doutrinárias podem revelar o que uma congregação diz que acredita, mas o culto revelará em que ela realmente acredita. Considerando isso, estamos em grandes apuros.

Anos atrás, A. W. Tozer lamentou que muitas igrejas concebem a adoração como “o máximo de entretenimento e o mínimo de instruções sérias”. Muitos cristãos, ele argumentou, nem mesmo reconheceriam o culto como “uma reunião onde a única atração é Deus”. Verdade 50 anos atrás, estas palavras agora servem como acusação direta ao culto contemporâneo.

Adoração é o propósito para o qual fomos feitos – e apenas os redimidos podem adorar o Pai em espírito e em verdade.

Do ponto de vista mundano, devemos encarar o fato de que o modernismo fez desabar transcendência em muitas mentes. O foco do culto foi “horizontalizado” e reduzido à escala humana. O culto foi transformado em um experimento cujo “significado” é definido por quem presta culto, não um ato de alegre submissão à maravilha e grandeza Deus.

Embora todos os cristãos afirmem a necessidade e realidade da dimensão experimental da fé, a experiência deve ser fundamentada e sujeita à Palavra de Deus.

Hughes Oliphant Old uma vez resumiu o culto cristão em termos do “senso da majestade e soberania de Deus, senso de reverência, de dignidade simples; convicção de que a adoração deve, acima de tudo, servir ao louvor de Deus.” Como Old reconheceu, este caminho para a renovação “pode não ser exatamente o que todo mundo está procurando.”

Procurando isto ou não, este é o único caminho de volta ao culto que Deus busca.

Traduzido por Rafael Abreu

 
*Os Irmãos Karamazov é um romance de Fiódor Dostoiévski; um clássico da literatura russa escrito em 1879.

 

Albert Mohler Jr. é reconhecido como um dos líderes mais influentes dos Estados Unidos pelas revistas “Time” e “Christianity Today”. Possui um programa no rádio que é transmitido em mais de 80 estações em todo o país. É presidente da escola mais importante da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos, a Southern Baptist Theological Seminary.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Uma Crítica a "Carta a um jovem casal sexualmente ativo"

http://www.novosdialogos.com/artigo.asp?id=1162



1) O autor desse texto basea-se no pensamento de Robinson Cavalcanti.


a) A teologia de R.C. era liberal; muitas de suas idéias eram contrárias ao cristianismo histórico.

        b) Simpatizava-se com os pensamentos Alfred Kinsey que foi um pervertido sexual considerado cientista. Kinsey era polígamo e bisexual; concordava com sua mulher que ambos poderiam ter relações sexuais com outras pessoas e entre si; manteve relações sexuais com um de seus alunos. É considerado por muitos um dos responsáveis pela banalização do sexo nas últimas décadas.

Para saber mais sobre Kinsey: http://en.wikipedia.org/wiki/Alfred_Kinsey

c) R.C. também defendeu a poligamia (o que mostra um entendimento deturpado que tinha da Escritura) e outras práticas anti-bíblicas. Suas definições sobre fornicação beira ao ridículo (ver ponto 3 item d).



2) O autor não se utilizou de versículos para mostrar que seus argumentos são Bíblicos, apenas para afirmar que aqueles que defendem ser pecaminosa a prática do sexo antes do casamento utilizam algumas passagens indevidas. Apesar disso, não demonstrou o porquê de essas passagens serem indevidas (a não ser que chamar os textos mais citados de "chavões textuais" e ignorá-los para "não ser exaustivo quanto as referências" seja uma nova forma de prova científica).

Sobre o utilizar a edição "A mensagem" da Bíblia e citar o "tio Ben" (do Homem-Aranha), me recuso comentar.

Estes  dois pontos são suficientes para invalidar esse texto como fonte de reflexão edificante.



3) Quanto ao conteúdo do texto em si, tenho várias críticas:


a) "[...] como se pureza e a santidade de um namoro pudessem apenas ser avaliadas, embora eu pense que isso não se avalia, pela ausência da dimensão erótica."

Tomara que este seja o pensamento do autor e só dele! Se a Bíblia é a única regra de fé ou prática, não devemos negligenciá-la em nem mesmo um único ponto, e ela é bem clara quanto à avaliação da pureza e santidade:  "Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice." (1Co.11:28 - uma prática comum dos puritanos e reformados do passado era, ao final do dia, avaliarem a si mesmos por todas as palavras, pensamentos e obras que haviam praticados durante o dia; que homens!) Se a Palavra ordena que sejamos santos ("sede santos porque Eu sou santo" e "segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá a Deus", dentre outros vs.) não entendo como posso me tornar cada vez mais santo sem ter um padrão de santidade pelo qual avaliar meus relacionamentos.

Embora a "dimensão erótica" não seja o único padrão pelo qual se deva avaliar a pureza e santidade, é sim um padrão, e muito bem estabeleciodo pela própria Escritura. "Dimensão erótica", a meu ver, não se refere apenas ao sexo mas também a fatores tais quais vontades e desejos, dentre outros. Ora, a cobiça pelo prazer a qualquer custo, adultério e perversão sexual, por exemplo, não seria uma falta de santidade e pureza? O autor poderia pelo menos definir melhor o que é essa tal "dimensão erótica".


b) "Tem-se preferido, assim, ignorar que boa parte dos casais de namorados hoje não vive de acordo com tal imperativo, consciente e saudavelmente, ou clandestina e culposamente. "

O velho hábito brasileiro de justificar um erro com outro! Se todos os homens praticassem blasfêmia, (consciente e saudavelmente, ou clandestina e culposamente), a blasfêmia deixaria de ser pecado? Não! Ignorar que "todos" casais de namorados praticam o sexo não faz essa prática menos pecaminosa; a única consequência disso é que Deus julgará aqueles que são responsáveis por não pregar e exortar contra ela. Serão todos culpados!


c) "As exigências da igreja com relação à sexualidade há um bom tempo têm sido hipócritas, presunçosas e legalistas, tudo em nome de uma idolatria biblicista travestida de fidelidade à Bíblia."

Gostaria de saber a quais "exigências" (note o plural) o autor se refere. Desde que as exigências da igreja sejam as exigências bíblicas, considerá-las hipócritas, presunçosas e legalistas é loucura, a menos que ele não seja realmente um cristão.

"Idolatria biblicista"? A Bíblia é a Palavra de Deus inspirada e infalível; serve para instrução dos santos e para a própria glória de Deus; é vida eterna, liberdade, verdade e muito mais! Ele está falando sério?  Se realmente soubéssemos o que é fidelidade à Bíblia tentaríamos nos esconder debaixo de montanhas para fugir da ira de Deus, e certamente o mundo diria: "coitados loucos idólatras da Bíblia!"


d) "Não estou dizendo que estes preceitos não existem nem que não sejam válidos, mas sim que faltam discernimento e honestidade intelectual no momento em que os aplicamos, muitas vezes (senão na maioria delas) fora de seu devido contexto."

Os puritanos foram os maiores defensores da pureza, castidade e santidade (em todos os aspectos). Esses homens de Deus viviam o que pregavam; a simples leitura de suas biografias nos deixa constrangidos! Eles não foram, apenas, notáveis teólogos, mas dominaram variadas áreas do conhecimento; deles surgiram algumas das melhores universidades do mundo (Yale, Princeton e Harvard dentre muitas outras). Jonathan Edwards foi é considerado, por muitos, o maior filósofo que já houve nos EUA; John Owen, uma das mentes mais brilhantes da Inglaterra. A lista de nomes é imensa.

Para eles, o sexo fora do casamento não poderia sequer ser considerado. E não nos limitemos a exemplos do passado: John Piper, Washer, Mark Dever, Albert Mohler, Sproul, Steven Lawson, Augustus Nicodemus e milhares de outros intelectuais da atualidade concordam que o casamento é o âmbito estabelecido por Deus para a prática do sexo.

Será que realmente falta "honestidade intelectual" ao se afirmar que o sexo fora do casamento é um ato pecaminoso?
 
(Sobre a "fornicação"): John Gill, um dos melhores e mais brilhantes exegetas, escreveu em seu aclamado comentário expositivo :

http://beta.biblestudytools.com/commentaries/gills-exposition-of-the-bible/ephesians-5-3.html
http://beta.biblestudytools.com/commentaries/gills-exposition-of-the-bible/galatians-5-19.html


e) "E é assim que muitos dos que com certa jactância se proclamam crentes bíblicos tratam a Bíblia: como um objeto de veneração, que acaba anulando a reverência à Palavra Divina, empobrecendo e enclausurando-a em seus preceitos humanos (demasiadamente humanos?). "

Definição de "venerar" do Dicionário Priberam: ter estima respeitosa por; tratar com muito respeito; ter em grande consideração.

Definição de "venerar" do Dicionário Aurélio: render culto a;  reverenciar; respeitar; acatar.

Não entendo como alguém pode venerar e, ao mesmo tempo, "anular a reverência à Palavra Divina". Isso seria, no mínimo, um despropósito. Quem "empobrece" e "enclausura" a bíblia em "preceitos humanos" (seja lá o que o autor quis dizer com isto), não venera a Bíblia nem nada dela entende.


f) "Mas acabam entrando na vala comum porque é mais fácil pensar a Bíblia como um manual de boa conduta, com regras específicas para tudo o que consideramos como má conduta, que como a Palavra de Deus que, em si, é um convite a uma obediência com discernimento e boa consciência diante de cada situação vivida." 

Que colocação infeliz! Apesar de não se resumir a isso, a bíblia é também um manual de boa conduta com regras específicas; não se trata de regras sobre o que consideramos má conduta, mas que o próprio Deus considera má conduta; se fomos regenerados, tivemos nossos pensamentos renovados e estamos nos conformando à Cristo (Rm.12:2 ;  Rm.8:29 - lembrando que o texto se dirige a cristãos),  o que consideramos como má conduta deve ser o que o próprio Deus considera como má conduta.  Aqui entendo que há uma certa confusão do autor já que ele mesmo diz que a bíblia é um convite à "obediência com discernimento"; será que ele discerniu bem o que devemos obedecer?

Além disso,  ao contrário do que ensina a cultura, regras são necessárias e boas (e não confundam regras com legalismo!) Paul Washer fala sobre isso no vídeo do link abaixo entre os minutos 5 e 15:

http://www.youtube.com/watch?v=zd7Qg7Vebg0

Obs.: Basta ler o livro de Provérbios para se dar conta de que a Bíblia é também um "manual de boa conduta".


g) "Corro aqui o risco de levar muitas pedradas, mas é o preço da honestidade e de não mais estar disposto a esse jogo de faz de contas que há muito grassa em nosso meio, ou seja, faz de conta que eu não sei que vocês transam e vocês fazem de conta que seguem a lei da abstinência pré-matrimonial. É preciso dar um basta nessa hipocrisia, mesmo que como gritos que serão ouvidos por poucos e execrados por muitos." 

O argumento apresentado aqui é um insulto à inteligência. Obviamente é preciso dar um basta nessa hipocrisia. Mas seria um tanto quanto pretencioso, vulgar, mundano e herege fazer isso desfazendo-se das verdades Bíblicas. Como já disse num ítem anterior, se uma prática pecaminosa é comum, ela não deixa de ser pecaminosa, pelo contrário, atesta o derramar da ira de Deus no presente momento. Se todos os casais cristãos mantêm relações sexuais e "fazem de conta que seguem a lei da abstinência pré-marital", tanto a fornicação quanto a mentira e o engano não deixam de ser pecado! Se todos "fazem de conta que não sabem", a omissão não deixa de ser pecado! A lei moral de Deus (Ex.20) não foi abolida pela graça.


h) "[...] não estamos falando de pedaços de carne em atrito e fricção em busca de prazer pura e simplesmente, mas nos referimos a duas pessoas, que têm sentimentos, que sofrem, que choram, se emocionam, se fragilizam quando se decepcionam, quando amam, quando se machucam."

Aqui está uma consequência terrível da queda: o antropocentrismo. Quando falamos de sexo não falamos de duas pessoas, mas de Deus e duas pessoas! Sim, a glória de Deus é o maior motivo do sexo. Ao afirmar que falar de sexo é "se referir a duas pessoas", o autor nos dá um retrato perfeito da humanidade: egoísmo e rebeldia contra Deus. EU sinto, EU sofro, EU choro, EU me emociono,  EU me fragilizo, EU me decepciono, EU amo, EU me machuco. EU, eu, eu. Deus não faz parte de nenhum processo. Ah! Engana-se quem pensa que o sexo é um ato que diz respeito apenas aos dois indivíduos envolvidos fisicamente; terrivel erro comete aqueles que não glorificam a Deus no relacionamento íntimo, não buscam satisfazê-Lo em primeiro lugar e se apartam de Deus no ato sexual.

"Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus." - 1Co.10:31


i) "Escrevo para dizer que está nas mãos de vocês o querer fazer certo, fazer bem, fazer com amor, fazer durar o relacionamento enquanto se é vivo, e isso também é dádiva divina."

Novamente o antropocentrismo! Não está nas nossas mãos o querer fazer o certo e o bem (se é que fomos regenerados) "porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade." - Fp.2:13. Se não fomos regenerados, pior ainda tornou-se o caso:

"Como está escrito:Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só." - Rm.3:10-12

"Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?" - Jr.17:9

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Se você se arrepende das práticas sexuais ilícitas já praticadas, confesse seu pecado a Cristo pois ele é fiel e justo para perdoar. Ele pode transformar seu relacionamento para que o próprio Pai seja glorificado e para que você desfrute da imensa alegria do prazer verdadeiro.

Alguns links sobre o tema:

http://tempora-mores.blogspot.com.br/2008/07/carta-um-jovem-evanglico-que-faz-sexo.html
http://www.gracebaptist.ws/sermons/notes/PuritanStudy/Puritan2.html


Soli Deo Gloria

Rafael Abreu

quarta-feira, 10 de julho de 2013

pdf dessa tradução:
https://www.dropbox.com/s/s1njxo6xirqad9q/o_autor_do_pecado_vincent-cheung.pdf

Original inglês:
https://www.dropbox.com/s/ovyeojia9laon3c/author_of_sin.pdf



O Autor do Pecado
Vincent Cheung
(Tradução: Rafael Abreu)


Apologética é fácil, mas frequentemente é dificultada devido às tradições não bíblicas e suposições irracionais.

Quando os cristãos são questionados se Deus é o “autor do pecado”, eles respondem com rapidez: “Não, Deus não é o autor do pecado.” Então eles se contorcem no chão, tentando dar ao homem algum poder de “autodeterminação” [1], e algum tipo de liberdade que, em suas mentes, tornarão os homens culpados [2], e ainda assim deixará Deus com Sua soberania total.

Por outro lado, quando alguém alega que minha visão de soberania divina faz de Deus o autor do pecado, minha primeira reação tende a ser: “E daí?” Até mesmo cristãos que discordam de mim, estupidamente entoam: “Mas ele faz de Deus o autor do pecado!” Entretanto, uma descrição não corresponde a um argumento ou objeção, e nunca me deparei com alguma explicação decente com o que há de errado em Deus ser o autor do pecado em qualquer trabalho teológico ou filosófico escrito por qualquer pessoa de qualquer perspectiva.

A verdade é que, se Deus é ou não o autor do pecado, não existe problema bíblico ou lógico quanto a isso. Para que seja um problema, isso deve tornar falso algum ponto do Cristianismo ou contradizer alguma passagem da Escritura. Mas se Deus é o autor do pecado, como isso torna o Cristianismo falso? Alguém deve construir um argumento através de premissas estabelecidas mostrando que, se Deus é o autor do pecado, chegamos à conclusão que o Cristianismo é falso. Que argumento é esse? E qual passagem da Escritura isso contradiz? Você pode citar qualquer passagem que quiser, mas terá de mostrar que esta necessariamente se aplica à questão e faz impossível o fato de Deus ser o autor do pecado. Onde está essa passagem da Escritura?

Dentre muitas respostas falaciosas, está o apelo à Tiago 1:13 [3]. Utilizar esse verso para negar que Deus é o autor do pecado é uma das piores más aplicações da Escritura, e porque esse erro é muito popular e influente, causou muito estrago e gerou um fardo desnecessário àqueles que defendem a fé.

Considere o contexto. Tiago está discutindo em sua carta o resultado prático da fé Cristã, sendo assim, ele frequentemente enfatiza a responsabilidade direta dos Cristãos, e da perspectiva imediata dos Cristãos. Tiago está mostrando o que o Cristão deveria considerar e tratar em suas lutas como Cristão – ele não está lidando com metafísica.

Ou seja, ele está tratando de tópicos do ponto de vista do Cristão, que dizem respeito à considerações e responsabilidades imediatas e não de princípios de metafísica.

Porém, quando estamos discutindo a soberania de Deus versus a liberdade humana, causa e efeito, etc., na verdade estamos lidando com metafísica. É claro, as conclusões alcançadas neste nível conduzem, necessariamente, à aplicações práticas, e os ensinos bíblicos sobre metafísica e aplicações práticas são completamente consistentes uns com os outros. Porém, é verdade que, enquanto a discussão permanecer no nível metafísico, o referencial é diferente, de maneira que deve-se ter cuidado para não inferir invalidamente um princípio metafísico a partir de um versículo de instrução prática.

Com isso em mente, leia a passagem outra vez. Ela não afirma ou nega que Deus é o autor do pecado – nem mesmo aborda o tema; seu objetivo é completamente diferente. O texto apenas nos diz que Deus não é o tentador, o que é completamente diferente de dizer que Deus não é o autor do pecado.

Ou seja, se Deus diretamente te faz pecar, isso não faz d'Ele o “autor” do pecado (pelo menos no sentido que as pessoas geralmente usam a expressão*), mas o “pecador” ou o “transgressor” ainda é você. Uma vez que pecado é a transgressão da lei divina, para que Deus seja pecador ou transgressor, nesse caso, Ele deveria decretar uma lei moral que proibiria a Si mesmo de ser o autor do pecado, e então, quando, de alguma forma, Ele agisse como autor do pecado, se tornaria um pecador ou transgressor.

Mas a menos que isso aconteça, o fato de Deus ser o autor do pecado não faz d'Ele um pecador ou transgressor. Os termos “autor”, “pecador”, “transgressor” e tentador são relativamente precisos – pelo menos precisos o suficiente para serem distinguidos entre si, e Deus ser o “autor” do pecado não diz nada a respeito de também ser “pecador”, “transgressor” ou “tentador”. E não ser transgressor significa, por definição, que Ele não fez nada errado. Portanto, ainda que Deus seja o autor do pecado, não implica que há algo errado com isso, ou que Ele seja transgressor.

Entretanto, isso não afasta Deus do mal, pois ser o “autor” do pecado implica muito mais controle sobre o pecador e sobre o pecado que meramente tentar. Enquanto o satanás (ou a cobiça da pessoa) é o tentador, e a pessoa é quem de fato peca, é Deus que controla completa e diretamente ambos, o tentador e o pecador, e a relação entre eles. E, embora Deus não seja Ele mesmo o tentador, ele envia deliberadamente e soberanamente espíritos maus para tentar (1Rs.22:19-23) e para tormentar (1Sm.16:14-23, 18:10, 19:9). Mas em tudo isso, Deus é justo por definição.

O versículo está dizendo que quando você lida com a tentação, você deve tratar diretamente de sua cobiça, e não culpar Deus e ficar de braços cruzados, ou permanecer no pecado. Leia todo o primeiro capítulo de Tiago e veja se esta não é a ênfase óbvia. Tiago trata da alegria, fé, perseverança, dúvida, orgulho, cobiça, ira, imundície moral e sobre ser praticante da palavra. Ele está tratando com as responsabilidades diretas dos cristãos na vida prática, e faz isso relacionando todas essas coisas com os motivos internos e com as características da pessoa.

No verso 13, o autor está instruindo o crente sobre como abordar corretamente a tentação – não tentando explicar a metafísica por trás disto. Ou, ele está considerando responsabilidade do crente nos fatores internos da santificação e não a causa metafísica ou princípios para estes. Mas a causa metafísica ou princípio é exatamente o que estamos discutindo quando consideramos se Deus é o autor do pecado. Portanto, Tiago 1:13 não é diretamente aplicável a nosso tópico. Se alguém ainda deseja negar que Deus é o autor do pecado, terá que usar outro verso.

Aqueles que citam Tiago 1 para reivindicar que Deus não pode ser o autor do pecado poderá usar o verso 17 [4] para ratificar sua interpretação do verso 13. Contudo, se o verso 17 é interpretado de maneira que é consistente com essa interpretação do verso 13, então haveria contradição com Isaías 45:7 [5]. Mas se o verso 17 é interpretado corretamente de maneira que não contradiga Isaías 45:7, então não mais confirma a falsa interpretação do verso 13. Um exame mais detalhado do verso 17 terá de esperar, mas o que já foi dito torna essa interpretação do verso 17 impossível, então não preciso dizer mais para nosso presente propósito. O fato é que nada nessa passagem de Tiago nega (ou afirma) que Deus é o autor do pecado.
O motivo e efeito da resposta popular é satisfazer o padrão humano de justiça e retidão. Dabney, Shedd e outros admitem que suas respostas destina-se a satisfazer a intuição humana. Se não fosse pelo fato que a soberania absoluta de Deus é repugnatne à intuição humana pecaminosa, defeituosa pelo efeito noético do pecado, a questão do “autor do pecado” não teria um ponto de entrada lógico na discussão teológica.

Em contraste, a abordagem bíblica para este tipo de questões e objeções não é para justificar Deus, mas reprovar o homem por questionar e objetar.

Nossa passagem em Isaías 45 é um exemplo:

"Eu sou o SENHOR, e não há outro; fora de mim não há Deus [...] eu sou o SENHOR, e não há outro. Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas.

Porventura dirá o barro ao que o formou: Que fazes? ou a tua obra: Não tens mãos?

Ai daquele que diz ao pai: Que é o que geras? E à mulher: Que dás tu à luz?"

Em outras palavras, “Eu sou o único Deus. Se é prosperidade ou disastre, sou Eu quem faço todas estas coisas – não existe outro deus para fazê-las. Você ousa a me questionar sobre isso? Quem é você para contestar?”

Embora esse verso não possa resolver todos os detalhes conclusivamente, ao contrário de Tiago 1, tem algo a ver com metafísica. Ele é o único Deus, e isto está inseparavelmente conectado ao fato de que Ele é o único Deus que causa “todas estas coisas”, incluindo prosperidade e desastre. Ele é quem faz todas elas. Isso é a negação de qualquer tipo de dualismo – não existe nenhum outro poder que pode fazer prosperar ou causar um desastre [6].

Ao contrário da explicação tradicional, Deus não diz: “Oh, não, Eu não sou o autor do pecado. Embora eu seja a causa final de todas as coisas, eu me distancio de causar diretamente o mal estabelecendo causas secundárias e agentes livres. Então, embora eu tenha criado e sustente todas as coisas, os homens pecam livremente pensando e agindo de acordo com suas próprias inclinações. As inclinações para o mal vêm de Adão. Como Adão adquiriu esta inclinação para o mal... bem, isso permanecerá um mistério para vocês.” Se esta é a resposta, porque não ir direto ao mistério e poupar tempo a todos nós?

A Bíblia nunca responde desta maneira este tipo de questão e objeção. Existem muitas passagens bíblicas dizendo que Deus causa todas as coisas, e a metafísica por trás disso é explicada pela onipotência de Deus – a mesma onipotência que criou todas as coisas. Por outro lado, todas as passagens que as pessoas usam para negar que Deus é o autor do pecado ou para provar a compatibilidade são sempre apenas descrições de eventos e motivos, sem lidar com a causa metafísica destes eventos e motivos.

Ao invés de dar a resposta popular, que é fraca, evasiva, incoerente e confusa, Deus desavergonhadamente declara: “Sim, Eu faço todas estas coisas. O que você fará a respeito disso? Quem é você para me perguntar sobre isso?” Quanto à metafísica, incluindo a relação de Deus com as decisões humanas, se para o bem ou para o mal, é assim que a Bíblia responde.

Então, lemos em Romanos 9:19-21:

"Dir-me-ás então: Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem tem resistido à sua vontade? Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?"

Novamente, aqui há algo a ver com a metafísica (determinismo, liberdade, etc.), uma vez que o contexto tem a ver com eleição e reprovação, e a criação dos eleitos e não-eleitos, como o oleiro faz o vaso a partir da terra.

E, ao contrário da resposta típica, Paulo não diz: “Oh, não, você não entende. Embora Deus determine todas as coisas, Ele causa todas as coisas apenas através de você tomando decisões de acordo com sua própria natureza, que vem de Adão, cuja natureza misteriosamente deixou de ser santa para ser má, de maneira que Deus não é o autor do pecado, mas que você é responsável pelas próprias decisões e ações.”

Em vez disso, Paulo diz que o controle de Deus sobre ambos, o “nobre” e o “comum”, é como o controle do oleiro sobre o vaso [7]. E assim como o vaso de barro não pode perguntar ao oleiro, a resposta de Paulo a quem questiona não é: “Mas vocês fizeram de si mesmos pessoas más” ou “Vocês praticam o mal livremente de acordo com a própria natureza”, mas ao invés disso ele diz: “Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: 'Por que me fizeste assim'?” [8] E Paulo não diz: “Mas Deus não é o autor do pecado” mas invés disso, ele diz: “Deus tem o direito de fazer uma pessoa justa e outra má, para salvar uma e condenar outra. E é claro, ninguém pode resistir à Sua vontade! Mas quem é você para responder? ”

Esta é a abordagem da Bíblia. Ela reprova quem questiona e responde a objeção ao mesmo tempo. Mas a respota não nega que Deus é a causa direta do pecado; invés disso, diz ousadamente que Deus tem o direito de fazer o que Ele quiser e faz o que Ele quer. Ao invés de recuar ou se desviar, vai de encontro a quem questiona e lhe dá um tapa na face!

Esta é a resposta de Deus. É forte, direta, simples, coerente e irrefutável. É perfeita.



* O sentido, aqui, é que Deus seja o culpado pelo pecado que alguém comete.

[1] Ver Hodge, Dabney, Shedd, etc.
[2] Mas como já disse repetidamente, não existe conexão entre liberdade e culpabilidade.

[3] "Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência." - Tiago 1:13-14

[4] "Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação." - Tiago 1:17

[5] Esse artigo foi apresentado originalmente após uma discussão sobre Isaías 45:7, que diz: “Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas.”

[6] Alguns fazem uma distinção entre mal moral e natural, mas a Bíblia diz que Deus causa ambos. Veja meu artigo “O problema do mal”**

**Este artigo deve ser traduzido em breve.

[7] Obviamente, isto é apenas uma uma analogia; na verdade, o controle de Deus sobre nós é muito maior que o controle do oleiro sobre o vaso, uma vez que o oleiro não criou o barro e seu controle sobre o mesmo é limitado – por exemplo, ele não pode fazer o barro se tonar outro. Mas Deus criou todo o material com o qual trabalha e tem controle completo sobre ele.

[8] Assim, Paulo afirma que os réprobos são feitos réprobos por Deus, mas que eles não têm o direito de reclamar.

domingo, 30 de junho de 2013

pdf desse sermão:
https://www.dropbox.com/s/0s0d04nyf5qrspm/trigo_joio_27-06.pdf


A parábola do trigo e do joio
Rafael Abreu


"Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante ao homem que semeia a boa semente no seu campo; Mas, dormindo os homens, veio o seu inimigo, e semeou joio no meio do trigo, e retirou-se. E, quando a erva cresceu e frutificou, apareceu também o joio. E os servos do pai de família, indo ter com ele, disseram-lhe: Senhor, não semeaste tu, no teu campo, boa semente? Por que tem, então, joio? E ele lhes disse: Um inimigo é quem fez isso. E os servos lhe disseram: Queres pois que vamos arrancá-lo? Ele, porém, lhes disse: Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele. Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Colhei primeiro o joio, e atai-o em molhos para o queimar; mas, o trigo, ajuntai-o no meu celeiro." - Mt.13:24-30

"Então, tendo despedido a multidão, foi Jesus para casa. E chegaram ao pé dele os seus discípulos, dizendo: Explica-nos a parábola do joio do campo. E ele, respondendo, disse-lhes: O que semeia a boa semente, é o Filho do homem; O campo é o mundo; e a boa semente são os filhos do reino; e o joio são os filhos do maligno; O inimigo, que o semeou, é o diabo; e a ceifa é o fim do mundo; e os ceifeiros são os anjos. Assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será na consumação deste mundo. Mandará o Filho do homem os seus anjos, e eles colherão do seu reino tudo o que causa escândalo, e os que cometem iniqüidade. E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes. Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça." - Mt.13:36-43



INTRODUÇÃO

As sete parábolas do capítulo 13 foram ensinadas em um momento em que a oposição dos líderes religiosos a Jesus era crescente. Estas estão relacionadas entre si e por meio delas, Jesus explicou a seus discípulos as consequências de seu ministério.

A primeira parábola (vs.1-23) descreve a pregação do evangelho; nela, a semente é a própria Palavra e o solo é o coração do homem. Nela, confirma-se que, embora seja pregado a muitos, esse evangelho não encontra muitas terras férteis; muitos são chamados para produzirem frutos, mas poucos frutificarão: "Pois muitos são chamados, mas poucos são escolhidos" (Mt.22-14); muitos são chamados para ouvirem, mas poucos ouvirão: "Quem é de Deus escuta as palavras de Deus; por isso vós não as escutais, porque não sois de Deus" (Jo.8:47).

Por sua vez, a parábola do trigo e do joio, começa com a expressão “o reino dos céus é semelhante” (vs.24). Aqui, “o reino dos céus” não é o mundo glorioso que esperamos por vir, o paraíso, pois no lá não existe joio. Porém, o reino trazido pela distribuição do evangelho, assim como pregava João Batista: “[...] porque é chegado o reino dos céus” (Mt.3:2); é o reino do Messias que se manifestou à Israel, resultado do seu ministério na Terra. Essa expressão se refere ao governo de Cristo que ordena todas as coisas, sustenta, governa e controla tudo como o cabeça, o Rei, sob cuja autoridade todos estão.

A parábola do semeador fala dos diferentes tipos de solo; nessa segunda, nos é dito a respeito dos diferentes tipos de sementes. Nesse contexto o campo não são os corações, mas o mundo. Portanto, a semente, aqui, não é a Palavra, mas sim os homens. A respeito disso, consideraremos a seguir.


I. As sementes são plantadas por quem lhes possui

Existem dois semeadores, apenas dois. Cada semente ou pertence a um ou pertence a outro. Não existe meio termo, não existem sementes que não pertençam a algum deles. Todas já foram preparadas para o plantio e se manifestarão como filhos de Deus ou filhos do maligno: “Nisto são manifestos os filhos de Deus, e os filhos do diabo. Qualquer que não pratica a justiça, e não ama a seu irmão, não é de Deus” (1Jo.3:10).

1. As sementes do Filho do Homem.

As sementes plantadas pelo dono campo são boas. Ele não se engana; nenhuma semente má é plantada por engano. Ele sabe que todas as sementes que possui, embora não sejam perfeitas, não se estragam e são boas porque foram dadas pelo Pai: “E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca” (Jo.6:39).

Essas sementes não são boas por si mesmas ou porque uma vez desejaram e se esforçaram para serem boas. Elas estavam prontas para crescer e darem frutos maus, e serem colhidas para o fogo, a perdição, mas receberam um atestado de qualidade que foi emitido na cruz. Foram regadas com sangue do Cordeiro que as fez própria para o plantio. Apesar de terem nascido estragadas, foram regeneradas pelo Espírito de Deus, segundo a vontade daquele que as criou: “Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre” (1Pe.1:23). Elas têm a vida porque a Palavra está nelas e a Palavra é vida: “Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (Jo.11:25) e “Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste” (Jo.17:2)

2. As sementes do maligno.

As outras sementes são más. Elas não foram criadas pelo maligno, mas foram corrompidas. Elas são plantadas pelo maligno. Crescem e frutificam, mas aí não há vida verdadeira pois essas sementes não têm vida que flui daquele que é a vida. Seu “fruto” é o joio que para nada serve; seu único fruto é a rebelião contra Deus, o pecado cujo salário é a morte: “Porque o salário do pecado é a morte [...]” (Rm.6:23).

Esses são os que não creem em Cristo, que já nasceram mortos e continuarão mortos. São surdos e, ainda que estejam aqui, nesse momento ouvindo a Palavra, não ouvem verdadeiramente.

3. Os frutos revelarão quem é filho de Deus e quem é filho do Maligno.

E, quando a erva cresceu e frutificou, apareceu também o joio. (vs.26)

O joio está junto ao trigo desde os primeiros momentos, mas só é percebido quando o trigo floresce e dá frutos.

Cada semente possui as características daquele que a plantou. As que foram plantadas pelo Bom Agricultor ouve a voz deste quando é dito: “Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento” (Mt.3:8) e dão frutos para vida: “Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança” (Gl.5:22). As sementes boas guardam em si os mandamentos do Senhor: “E aquele que guarda os seus mandamentos nele está, e ele nele. E nisto conhecemos que ele está em nós, pelo Espírito que nos tem dado” (1Jo.3:24); essas sementes são como as ovelhas que reconhecem a voz do seu Pastor e o segue: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem” (Jo.10:27).

Por sua vez, as sementes más produzem frutos maus, os quais são: “adultério, prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus” (Gl.5:19-21). Esses que foram plantados por satanás satisfazem aos desejos dele: “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira” (Jo.8:44)

As sementes que pertencem a Deus, ainda que por algum tempo permaneçam nas mãos do diabo, serão tomadas dele. Isto é, aqueles dentre vocês que ainda não creram em Cristo que é o único capaz de torná-los pessoas boas, estão nas mãos do maligno, sujeitos ao pecado, escravos dele: “Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também.” (Ef.2:2-3). Mas se crerem no evangelho, se arrependerem e abandonarem o pecado, isso significa que vocês não são sementes mortas em si mesmas, mas têm a vida dada pelo Bom Semeador “Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)” (Ef.2:5)!


II. O joio será preservado por um momento para o bem do trigo

Satanás não pode arrancar as boas sementes. Ele usa outra estratégia para tentar frustar os planos do Senhor; planta impostores, falsificações; são aqueles que estão na igreja e têm aparência de piedade, mas não são piedosos: “Sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te” (2.Tm.3:3-5); têm aparência de ovelhas mas são lobos: “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores” (Mt.7:15)


1. O Dono do campo sabe que sementes más foram semeadas.

Mas, dormindo os homens, veio o seu inimigo, e semeou joio no meio do trigo, e retirou-se. (vs.25)

E ele lhes disse: Um inimigo é quem fez isso. (vs.28)

O sono descrito aqui é um sono espiritual. Note que o versículo não diz que o Semeador dormiu; a palavra dormir se refere aos homens, pois: “Eis que não tosquenejará nem dormirá o guarda de Israel” (Sl.121:4). Portanto, o sono aqui, assim como na parábola das dez virgens (Mt.25) é o sono dos homens salvos, dos piedosos, dos ministros de Deus e da Igreja. Esse sono é o contentamento com a aparência de piedade; com a omissão; a falta de oração; a carência de conhecimento bíblico; e, por causa desse sono, satanás plantará no campo suas sementes.

Entretanto, devemos nos lembrar que o Senhor sabe que as sementes más estão entre as boas. Ele é o conhecedor do coração dos homens e sabe por quem cada semente foi plantada, se por Ele, ou se pelo maligno. O Senhor não pode ser surpreendido, Ele sabe todas as coisas pois Ele mesmo declarou que tudo deveria acontecer desta forma.

2. É permitido ao joio crescer mas o trigo é preservado

Satanás não têm autoridade alguma ou poder algum para destruir a plantação do Senhor. Se ele ataca, é porque o Senhor permite (assim como no caso de Jó), e o Senhor permite para Sua própria glória.

Muitos de vocês que estão aqui hoje acham que são trigo, que são filhos de Deus, santos, mas nada mais são que joio; são sementes plantadas pelo diabo. Alguns há anos frequentam os cultos e ouvem a palavra, mas seus corações são duros como a pedra, são obstinados; estão aqui para satisfazer seus próprios desejos e não para glorificar a Deus. Seus ouvidos estão tapados; tudo que fazem é produzir frutos podres e tentar atrapalhar o crescimento do trigo, que foi plantado pelo Senhor. O diabo usa suas línguas e suas atitudes para tentar destruir aqueles que pertencem a Deus.

Mas ouçam: vocês não deixarão de serem arrancados porque o Dono do campo não o pode fazer, se isso fosse de Sua vontade eles já teria arrancado as sementes más dentre os Seus; vocês estão aí para o bem dos filhos de Deus e não para o mal, para glória d'Ele e não para a glória de satanás. Enquanto vocês praticam obras más, os filhos de Deus são ensinados a amarem; a terem paciência; a perseverarem na fé dando graças pelas tribulações; são ensinados a confiarem no seu Senhor. Os filhos de Deus são preservados pois o próprio Deus os sustenta: “Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse” (Jo.17:12)

É permitido que vocês fiquem e cresçam no meio dos filhos de Deus até que venha a hora.


III. O trigo e o joio serão separados

O joio não permanecerá entre o trigo para sempre; não haverá joio na morada eterna. Não haverá engano: nenhuma boa semente será lançada fora e nem uma semente má escapará do fogo.Vocês que não obedecem ao Senhor e aos Seus mandamentos, que não creem nas escrituras nem se arrependem do mal que têm praticado, podem se enganar aqui, vivendo entre os filhos de Deus, mas chegará a hora em que estes dois grupos de indivíduos serão separados. Vocês podem enganar os ministros e os santos, mas não enganarão ao Senhor que conhece cada semente. Ele próprio dará ordem aos anjos para que vocês sejam retirados de Sua presença e lançados fora. Esta será a hora de sofrimento para aqueles que causam pecados: “Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem” (Mt.18:7)

1. Os filhos do maligno nada poderão fazer pois estarão atados. Eles serão lançados no fogo pelos anjos do Senhor

Não haverá nada que os homens maus poderão fazer pois eles estarão atados (vs.30). Naquela hora eles entenderão que não deviam ter procurado escapar do inferno, mas das mãos do Senhor. Eles não sofrerão a ira de satanás, mas a ira do próprio Deus. Não haverá lugar para onde correr, onde se esconder; nem tempo para arrependimento. Os anjos obedecerão a ordem do Senhor, do Dono do campo. Tudo que restará agora será uma terrível dor eterna. O castigo será infinito porque o Deus, cuja glória infinita ofenderam com o pecado, é um Deus infinito, de justiça infinita; logo, sua ira sobre eles também será infinita.

2. Os filhos de Deus serão reunidos em Seu celeiro.

Contudo, os filhos de Deus saberão que foram salvos. Se alegrarão eternamente por terem sido salvos não do inferno, mas da ira de Deus. Eles serão gratos eternamente a Cristo, que sendo infinito, suportou a ira infinita de Deus no lugar deles. Desfrutarão a bondade infinita do Senhor, sua graça e amor infinitos, para sempre. No seu celeiro, o paraíso, não haverá mais ervas daninhas nem pragas perniciosas; este celeiro é o lugar preparado para o trigo, ali a alegria será perfeita e completa.


CONCLUSÃO

Esta parábola foi ensinada para que soubéssemos que a Igreja que vemos, a terrena, não é composta apenas por santos de Deus. Porém, o objetivo aqui não é que cruzemos os braços e obsevemos os falsos cristãos causarem o pecado, mas pelo contrário, devemos estar atentos às obras de satanás; através desse ensinamento os ministros e os santos são exortados a lutarem contra o sono, e punir todo pecado na congregação (a exemplo de 1Co.5) sabendo, contudo, que ainda que não consigam purificar por completo esta igreja, o Senhor o fará.

Também através desta parábola, podemos encontrar:

a) conforto, ao saber que os que creem são levados a confiar em Deus quem os plantou e preserva. Isso significa que, estes, ainda que sofram as consequências do pecado nesse mundo, nada poderá lhes arrancar, mas serão recolhidos no celeiro de Deus.

b) angústia, ao saber que se não fomos regenerados (se nossos frutos não são bons) seremos lançados fora.


segunda-feira, 17 de junho de 2013

Arquivos pdf desse sermão:
https://www.dropbox.com/s/bhd4iusaeknnww4/as_dez_virgens_parte1.pdf
https://www.dropbox.com/s/8ydis62ovvfme50/as_dez_virgens_parte2.pdf
https://www.dropbox.com/s/z4f3d1b6oyj3vb8/as_dez_virgens_parte3.pdf
https://www.dropbox.com/s/bv8jlsnruquwyzw/as_dez_virgens_parte4.pdf


As dez virgens – Parte IV
Robert Murray M'Cheyne

"E, tendo elas ido comprá-lo, chegou o esposo, e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas, e fechou-se a porta. E depois chegaram também as outras virgens, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos. E ele, respondendo, disse: Em verdade vos digo que vos não conheço.
Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir." - Mateus 25:10-23

I. Quem está preparado?

Nem todos estão prontos. Esta parábola mostra que nem todos que professam ser de Cristo estão prontos. As virgens tolas pareciam estar prontas. Elas tinham vestes, suas próprias lâmpadas, o pavio e a chama; mesmo assim, não estavam prontas. Muitos de vocês vêm à casa de Deus, sentam-se perante as coisas sagradas e professam cuidar de suas almas; mesmo assim, vocês não estão prontos. Nem todos que estão ansiosos estão prontos. As loucas estavam aflitas. Seus corações vibravam. Elas foram comprar azeite – seus gritos eram altos e amargos, tavez tenham derramado lágrimas amargas; mesmo assim, não estavam preparadas. Muitos de vocês estão aflitos – indo comprar azeite. Vocês ficam com o rosto molhado quando procuram o Senhor; mesmo assim, não estão prontos. Se fossem morrer esta noite, não seriam encontrados prontos.

Quem, então, está pronto?

1. Aqueles que têm vestes de núpcias

Isto vemos em Apocalipse 19:7-8: “Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou. E foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos”. E também em Salmos 45:9,13: “[...] à tua direita estava a rainha ornada de finíssimo ouro de Ofir [...] A filha do rei é toda ilustre lá dentro; o seu vestido é entretecido de ouro”. E em Mateus 22:11 vemos que isso foi a primeira coisa que atingiu o coração do Rei, que o homem não tinha vestes nupciais. Esta veste nupcial é a justiça de Deus, as vestes de Cristo sobre a alma, a justiça imputada.

Este é o primeiro requisito para se encontrar com o Noivo celestial. Foi mostrado a vocês sua própria e terrível repugnância, que são todos como coisas sujas, todos vis e imundos? Descobriram gloriosamente o caminho da justiça que Jesus fez por nós? Você está deitado sobre o sangue e com a veste branca do Senhor Jesus? Então você está pronto.

Não se engane:

a) Não é seu conhecimento dessa justiça imputada. Muitas pessoas ouvem e sabem muito sobre essa veste de justiça, mas nunca a vestem e não são nem um pouco melhores. O conhecimento irá condená-los e afundá-los ainda mais.

b) Não é o desejo de ter essa justiça. O preguiçoso deseja, mas nada tem (Pv.13:4). Muitos desejam Cristo preguiçosamente, nunca são satisfeitos, e não fazem nada quanto a isso – como mendigos desejando se tornarem ricos.

c) Não é ter a veste colocada sobre nós uma vez e depois outra veste qualquer.

d) Este linho fino deve estar sobre nós para sempre. Cristo não é nossa justiça por um momento e depois nós mesmos com nossa própria santidade; mas é Cristo até o fim. Nossa veste nupcial no céu, deve ser o sangue de Cristo – veste limpa; devemos tê-la, concedida, todo dia – todo momento. Feliz alma a que diariamente vê sua própria perversidade mas também, diariamente, recebe aquela veste nupcial para cobrir sua nudez.

2. Aqueles que têm um novo coração

Porventura andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?” (Am.3:3). É impossível que duas almas sejam felizes juntas se amam coisas opostas. É como dois bois no jugo puxando para caminhos diferentes. Por isso há profunda sabedoria no mandamento que proíbe os filhos de Deus casarem com o mundo. “Que comunhão tem a luz com as trevas?” (2.Co.6:14). Da mesma maneira a noiva de Cristo deve ter uma só mente com Ele, se quiser entrar com Ele para o casamento.

Suponha que alguém de vocês, que tem um coração não regenerado, seja admitido com Cristo para o casamento. Seu coração é inimigo de Deus. Você odeia o povo de Deus, o Dia do Senhor é tedioso, você serve à varias concupiscências e prazeres. O cordeiro que está no trono guiaria você, e Deus enxugaria as lágrimas de seus olhos. Mas você odeia a Deus e o Cordeiro. Como você poderia ser feliz ali? Ninguém além dos filhos de Deus ou companheiros (cantores de salmos, hipócritas, como vocês costumam chamá-los) – vocês poderiam ser felizes com eles? Um eterno Dia do Senhor! Meu melhor conceito de céu é um eterno Dia do Senhor com Cristo. Você poderia ser feliz? Você desfrutaria isso? Ah, meus amigos, não entrará ninguém que pratica ou ama a mentira. Se você ainda não nasceu de novo, você não está pronto.

3. Aqueles que têm suas lâmpadas acessas

Enquanto as virgens prudentes dormiam, elas não estavam preparadas. Verdade, elas tinham vestes nupciais e azeite em suas vasilhas, embora suas lâmpadas estivessem se apagando – seus olhos estavam fechados. Mas quando ouviram o clamor, acordaram e abasteceram suas lâmpadas, ficaram prontas para se encontrar e entrar com o noivo. Nem todos os filhos de Deus estão prontos. Algum apóstata – que acumulou culpa à alma, e não foi lavado; que está deitado sobre a culpa e que não tem pressa de ir à Fonte; que dá as costas à casa de Deus e sua face aos ídolos – está pronto? Um idólatra – que uma vez amou a Cristo, e agora coloca ídolos em Seu lugar, enredado com afeições ilícitas – está pronto? Está pronta a alma que deixou o primeiro amor e se esfriou nas coisas divinas? Estava Salomão pronto, quando seu coração foi atrás de várias esposas? Ou Pedro, quando negou a Cristo?

Ah! Aprendam, queridos amigos, a despertar a graça que está em vocês. Despertar sua fé em Jesus, seu amor por Ele e pelos santos, se quiser estar pronto. Vigie! Viva entre as coisas divinas. Mantenha o olho aberto para a glória vindoura.







II. A recompensa daqueles que estão preparados

1. Será de Cristo

Cristo os levará, com Ele, diante do Pai, e dirá: “Veja, Eu, e os filhos que destes a mim”. São eles por quem morri, orei e reinei. No presente, Cristo não possui seu povo publicamente, nem os diferencia dos hipócritas.

a) O mundo não os conhece.

O sol nasce para justos e injustos. Homens mundanos acham que somos como eles.

b) Os santos não nos conhecem.

Frequentemente suspeitam de nós. Frequentemente os filhos de Deus suspeitam uns dos outros injustamente. Eles não têm esta ou aquela experiência, esta ou aquela marca de filhos de Deus.

c) Frequentemente não conhecemos a nós mesmos.

Quando a guerra contra a corrupção é intensa dentro de nós, quando caímos em pecado, quando a graça é pequena na alma, “posso julgar a mim mesmo filho de Deus?”

Mas então Cristo nos possuirá e isso porá fim a toda dúvida para todo o sempre. Os escarnecedores saberão que Cristo nos ama, desejarão que estivessem entre nós. Os santos saberão que somos de Cristo tanto quanto eles, não suspeitarão mais uns dos outros. Não teremos mais dúvidas sobre nós mesmos: não haverá mais apatia, inconsistência, corrupção, treva e pecado. Cristo confessará nosso nome ao Pai. Ele dirá: “Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mt.25:34).

2. Os santos estarão com Cristo: “as que estavam preparadas entraram com Ele para as bodas”

a) A maior alegria do crente nesse mundo é desfrutar a presença de Cristo- não visto, nem sentido, não ouvido, mas ainda assim, real – a presença real do Salvador nunca visto. Isto faz a oração em secreto doce; as pregações, doces; os sacramentos, doces; quando encontrarmos Jesus: “Tenho posto o SENHOR continuamente diante de mim; por isso que ele está à minha mão direita, nunca vacilarei” (Salmos 16:8).

b) Frequentemente, Jesus esconde sua face e entramos em dificuldades. Procuramos aquele a quem nossa alma ama, mas Ele se foi. Nós nos levantamos e procuramos, mas não o encontramos.

c) Suponha um marido e esposa separados por muitos mares. É doce ter cartas e símbolos de amor, e ver algum amigo que faz bem, mas isso não compensará a falta um do outro. Da mesma maneira nós lamentamos a ausência do Senhor.

Mas quando Ele vier, estaremos com Ele. “Far-me-ás ver a vereda da vida; na tua presença há fartura de alegrias; à tua mão direita há delícias perpetuamente” (Sl.16:11). Aqui temos gotas e vislumbramos o prazer. Somos o corpo de Cristo. Leve-nos às ruas de outro, aos portões de pérolas, às músicas, aos tronos, às palmas, aos anjos e ainda diríamos: “Onde está o Deus-homem que morreu por mim? Onde está o Anjo que me redimiu do mal? Onde está Jesus? Onde está o lado perfurado? Queremos ver Sua face”. O cordeiro é a luz. Estaremos com o cordeiro no monte Sião. Nunca mais estaremos afastados.


III. O destino dos hipócritas

1. “[...] fechou-se a porta”

A porta de Cristo permanece escancarada por um longo tempo, mas finalmente se fechará. Quando Cristo vier, a porta será fechada. Agora a porta está aberta, e fomos enviados para convidar você a entrar. Em breve esta porta será fechada e você não mais poderá entrar. Assim foi no dilúvio. A porta da arca permaneceu aberta por cento e vinte anos. Noé saiu e pregou por todo lugar, convidando os homens a entrarem. O Espírito contendeu com o homem. Mas eles apenas zombaram. Até que o dia veio. Noé entrou e Deus o fechou ali. A porta foi fechada. O dilúvio veio e carregou todos os homens. Assim será com muitos aqui. A porta está escancarada agora. Jesus diz: “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens” (Jo.10:9). Cristo não diz “eu fui”, ou “eu serei”, mas “Eu sou” a porta. Hoje, qualquer homem pode entrar. Mas breve Cristo virá – como um ladrão; como uma armadilha; como as dores de parto em uma mulher com uma criança – e você não escapará. Entre pelo caminho estreito.

2. Naquele dia, eles dirão: “Senhor, Senhor, abre-nos”

Agora os hipócritas não oram, ou não levam a sério. Eles têm uma oração fria, formal e estúpida. Mas naquele dia eles chorarão de verdade. Hoje, muitos de vocês ficariam envergonhados de serem vistos tratando a alma com seriedade – chorando, ou orando, ou indo ao ministro. Naquele dia você perderá toda vergonha, irá chorar e gemer, e correr à porta de Cristo em agonia de espírito. Hoje, muitos de vocês são procurados por Cristo: “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido” (Lc.19:10). Ele é o pastor à procura da ovelha perdida. Ele bate à porta. “A vós, ó homens, clamo” (Pv.8:4). “Convertei-vos, convertei-vos!”; “Pecador, pecador, abra para mim!”.

Naquele dia será o contrário. Você procurará pelo Salvador mas não vai encatrá-lo; você baterá em Sua porta; você levantará a voz e clamará: “Senhor, Senhor, abra para mim”. Que cena esta igreja apresentará naquele dia! Aqueles que não vêm à casa de Deus, homens e mulheres de idade, com cabelos grisalhos, indiferentes e em pecado, jovens loucos pelos prazeres, filhos que viveram sem Cristo, estarão todos sérios naquele dia. Isso não repreende a vocês que não oram, ou oram de maneira fria e estúpida? Ah! Vocês orarão naquele dia, quando for tarde demais.

Por que não antecipar a ansiedade e começar a orar agora?

O desapontamento

“[...] vos não conheço”. Cristo possuirá seu próprio povo: “Eu os conheço”. Ele possuirá os pobres e desprezados crentes. Embora o mundo não os tenha conhecido, Cristo o conhecerá. Naquele dia nenhum será deixado. Mas nenhum como as virgens loucas, que não têm azeite em suas vasilhas. Cristo não os possuirá. Ah! Será algo temível ser negado por Cristo diante do Pai e dos santos Anjos. “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir” (Mt.25:13). Vejam se vocês têm a verdadeira graça em seus corações, se Cristo é sua justiça, que sua alma está viva.


(Tradução: Rafael Abreu)