sábado, 26 de abril de 2014

O Espírito Santo – Parte 2
EBD-Jovens 16/02/2014 – Igreja Batista Emanuel

Baseado na obra de O Espírito Santo, de John Owen e no comentário expositivo de John Gill.


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https://www.dropbox.com/s/fhwyougt3xike2i/o_esp%C3%ADrito_santo_parte2_16-02-2014.pdf

Introdução


Na última aula começamos a série de estudos sobre o Espírito Santo. Quero que vocês relembrem alguns pontos importantes: o que é sentir o Espírito? O que é ser guiado pelo Espírito? No final da aula falamos um pouco sobre o Espírito Santo e obra da salvação.

Hoje falaremos rapidamente sobre a Obra do Espírito na Criação e em seguida, sobre a Obra do Espírito no Antigo Testamento, especificamente, sobre o papel da profecia antes da vinda de Cristo.

A Obra do Espírito na Antiga Criação


Dizemos que Deus criou todas as coisas. Devemos nos lembrar, porém, que isso não se refere apenas ao Deus Pai; as três Pessoas da Trindade são indivisíveis em suas operações e atos, pela mesma vontade, sabedoria e poder (ou seja, cada um não faz o que quer independente da vontade do outro). Portanto, cada Pessoa da Trindade é autor de qualquer obra de Deus, porque cada Pessoa é Deus e a natureza divina também é indivisível, assim como operações divinas. Isso decorre da unidade das três Pessoas na mesma essência. Porém, há diferenças quanto à subsistência e a maneira como cada obra é atribuída a cada Pessoa. A criação do mundo, por exemplo, é atribuída ao Pai como Sua obra (At.4:24 – aqui Deus é o Pai de Jesus Cristo, como pode ser observado no vs.27), ao Filho (Jo.1:3) e também ao Espírito (Jó 33:4). O começo de toda operação divina é atribuído ao Pai – dele, através dele e para Ele são todas as coisas (Rm.11:36); a existência, o estabelecimento e o sustento de todas as coisas é atribuído ao Filho – Ele é antes de todas as coisas e todas as coisas subsistem por Ele (Cl.1:17); e a finalização de todas as coisas atribuído ao Espírito. Isso não quer dizer que uma Pessoa da Trindade começa sua obra onde a outra parou pois cada obra e cada parte das obras divinas é a obra de Deus ou seja, de toda a Trindade, inseparável e indivisível.

As obras de Deus podem ser divididas em duas categorias:
·         Obras da natureza;
·         Obras da graça.
Vamos considerar a atuação do Espírito em cada uma.



Obras da Natureza


Ao Espírito Santo é atribuída a obra da criação, por Ele completada e terminada (Jó 26:13 – “pelo Seu Espírito ornou os céus”). Veja Sl.8:3; o que é o dedo de Deus? Comparar Mt.12:28 e Lc.11:20. Ou seja, o Espírito de Deus adornou os céus, o enfeitou e embelezou para declarar a glória e a sabedoria de Deus (Sl.19:1).

O mesmo se deu na criação da Terra (sem forma e vazia; e com trevas sobre a face do abismo – Gn.1:2), uma massa de material sólido e água que provavelmente o cobria; terra e água que foram posteriormente divididos em terra seca e mar. O mesmo versículo registra que o Espírito de Deus se movia (ou pairava) sobre a face das águas. A palavra usada aqui para “mover” em hebraico é מְרַחֶ֖פֶת (merachepheth), que significa um movimento suave e agradável, como uma pomba ou a uma ave que acolhe os filhotes no ninho, fornece o calor necessário aos ovos e os protege (como em Dt.32:11); e não “vento de Deus” que é forte e poderoso para destruir (Jó 4:9). O Espírito Santo estava ordenando e dando forma à matéria do mesmo jeito que havia ordenado o céu (ver Jó 26:13) para dá-la virtude e torná-la apta a produzir criaturas vivas nela; para que ao comando de Deus fossem criadas todas as criaturas em abundância, de acordo com o princípio de vida que foi comunicado à matéria rude, ao caos informe, pelo mover do Espírito (Sl.54:30).

Obras da Graça


O vs.7 de Gn.2 diz que Deus soprou o “fôlego de vida” que é a metáfora para Espírito de Deus, ou seja, a criação da alma do homem foi obra imediata do Espírito de Deus (Jó 33:4). A criação das partes essenciais da natureza homem, corpo e alma é atribuída ao mesmo autor, pois o Espírito de Deus e o fôlego de Deus são os mesmos.

A alma do homem foi criada capaz de viver para Deus, para discernir a vontade de d’Ele, com disposição parar cumprir as leis de Deus gravadas no coração e abster-se do pecado.

Porém, o homem caiu em dois sentidos:
·         Naturalmente (com relação às partes essenciais do ser – vida recebida do sopro de Deus, a inteligência, os sentidos, etc. – Gn.2:7);
·         Moralmente (com relação aos princípios de obediência às leis de Deus – Gn.1:26-27; Ec.7:29).


Como veremos adiante, o Espírito restaura aquelas habilidades em nossas mentes, na renovação da imagem de Deus; Ele opera isso nos eleitos. Esses então dão o fruto do Espírito (Ef.5:9; Gl.5:22)
Obs.: sabemos que o objetivo principal do homem é glorificar a Deus (ICo.10:31), e ter comunhão com Ele para sempre (Sl.73:25-26), para isso ele foi criado.

Além disso, o Espírito de Deus preserva e mantém todo o universo poderosa e eficazmente com providência Divina.

As Obras do Espírito Santo no Antigo Testamento


Em geral, as obras do Espírito no Antigo testamento em sua maioria, senão absolutamente e sempre, tem a ver com nosso Senhor Jesus Cristo e o evangelho, elas prepararam o caminho da grande obra da nova criação n’Ele e por Ele. Essas obras podem ser divididas em duas categorias:

·         As extraordinárias, que excediam totalmente a capacidade natural do homem
Essas podem ser subdivididas em:
1 – profecia;
2 – inspiração para redigir a Escritura;
3 – milagres.

·         As que elevavam alguma habilidade do homem em determinadas ocasiões
Essas, por sua vez podem ser subdivididas em:
               1 – capacidade política para governar entre os homens;
               2 – em coisas morais como caráter e coragem;
               3 – em coisas naturais como aumento da força do corpo;
               4 – em capacidade intelectual.

A Profecia no Antigo Testamento


O primeiro dom do Espírito Santo no Antigo Testamento, o qual teve relação mais direta e imediata a Jesus Cristo, foi a profecia. O maior e principal fim deste instrumento na igreja era dar testemunho d’Ele, de Seus sofrimentos e de Sua glória; ou para apontar aquilo que deveria ser observado na adoração divina que poderiam ser tipos que O representariam (1Pe.1:9-12). As profecias davam testemunho da verdade de Deus na primeira promessa quanto à vinda da bendita Semente (Gn.3:15); e não apenas isto, mas também quando e da maneira como a vinda de nosso Senhor se daria bem como a condição do povo de Deus naqueles dias.

A comunicação do dom da profecia se deu de forma progressiva desde que o mundo foi criado. Continuou sem interrupção até que se completasse o Canon do Antigo Testamento, quando cessou na comunidade Judaica. Depois disso reapareceu com João Batista, com uma abordagem ainda mais próxima do Senhor Jesus Cristo, o motivo de todas as profecias (Lc.1:68-80).

Vamos considerar agora os textos de 2Sm.7 e 2Sm.12 e observar como as profecias estavam direta ou indiretamente ligadas à Cristo ou ao evangelho.

2 Samuel 7 – A aliança Davídica


Davi desejou de coração (vs.3 - “tudo quanto está no teu coração”) construir o Templo. Natã certamente viu que o desejo do rei era sincero e achou que Deus se agradaria daquilo. É possível que o profeta considerasse que o fato de o Senhor ter dado “descanso de todos os inimigos” (vs.1) era um sinal de que Deus aprovava ou aprovaria tudo que Davi fazia ou faria, e que aquela era uma boa ocasião para a construção da “casa do Senhor”. Provavelmente, após o encorajamento de Natã, Davi escreveu o Salmo 132. Porém, nem Davi nem Natã haviam consultado a Deus sobre aquilo; a palavra de Natã (no vs.3) não era da parte de Deus, ou seja, não era uma profecia, mas o que estava na mente do profeta. Deus não permitiria que Davi construísse o Templo (vs.5 - “tu”; ver 1Cr.22:8).

Cabe aqui um parêntese: a verdadeira profecia não é fruto do entendimento humano por melhores que sejam as intenções, nem daquilo que o homem acha ser melhor ou mais proveitoso; a verdadeira profecia é inspiração do Espírito Santo, é a revelação da vontade soberana de Deus.

Embora Deus tenha proibido Davi de construir o templo, no vs.8 Ele lembra a Seu servo de Sua bondade que o levou do campo ao palácio e de como o havia engrandecido no trono.

A partir do vs.11 caminhamos para o cerne da profecia de Natã. Temos nesse versículo uma mudança de cenário, uma inversão de agentes: não se trata mais de Davi estabelecer a casa de Deus, mas de Deus estabelecer a casa de Davi. Os versículos 12, 13 e os subsequentes se referem a Salomão, porém, devemos ter em mente que ele era um antítipo/figura do Messias (Zc.6:12; Jr.23:5 e Is.4:2 – o Renovo de Davi e a construção do Templo; Jesus filho de Davi o cabeça, a pedra angular, o fundamento e fundador da Igreja). No vs.14, novamente uma referência a Salomão e à Jesus (Mt.3:17). É importante lembrar aqui que a parte “b” do versículo não se aplica a Cristo, que não pecou nem conheceu pecado, mas foi feito pecado por imputação. E finalmente, a chave da profecia, o estabelecimento da Aliança de Deus com Davi: o vs.16 faz referência ao reinado eterno de da casa de Davi, reinado que foi estabelecido e completado em Cristo, que reina e reinará por toda eternidade (comparar vs.16 - “tua casa” e “teu reino” com 1Cr.17:14 – “minha casa” e “meu reino”).

2 Samuel 12 – A Fidelidade de Deus à Sua Própria Aliança


Davi havia cometido adultério e assassinato e o arrependimento não veio instantaneamente, embora sofresse continuamente por causa do pecado e da consequente falta de comunhão com Deus.  Deus enviou o profeta Natã para fazê-lo se arrepender publicamente de seu pecado. Nessa ocasião Davi escreveu o Salmo 51.

A figura dos dois homens do vs.1 é uma clara referência à Davi e Urias. No vs.2, rebanhos e manadas significa as muitas esposas e concubinas do rei (seis esposas apenas em Hebron). No vs.4, embora alguns pensem que o viajante seja satanás vindo com tentações procurando a quem possa devorar, os Judeus consideram que sejam as imaginações más e a concupiscência que despertaram as paixões carnais de Davi e o fizeram querer saciar-se com a mulher de outro homem. Quando seu coração se inflamou ao ver Bate-Seba, ele não procurou por suas esposas ou concubinas, mas satisfez seus desejos pecaminosos.

No vs.5, não tendo Davi percebido que a parábola se tratava dele, se irou por considerar o crime tão cruel e bárbaro. Na lei mosaica o roubo não era passível de morte, mas de restituição. Note que Natã não havia mencionado que o homem rico além de roubar, também matou o pobre. Em seguida, Davi estabelece uma pena como ordenado na lei (vs.6, Ex.22:1 – note que Davi sofreu por causa de quatro de seus filhos: o que morreu de Bate-Seba, Amnon, Tamar e Absalão; Adonias morreu depois de haver Davi também morrido).

No vs.9 Davi é condenado por quebrar o sexto e o sétimo mandamentos. O versículo 10 e os posteriores são a chave para entender como a profecia está ligada a Cristo. De acordo com a lei mosaica o homem e a mulher que cometessem adultério morreriam ambos (Lv.20:10). Davi não estava livre da lei por ser rei da nação, pelo contrário, deveria ser exemplo de retidão; segundo a lei, Davi deveria ter sido condenado à morte. Porém, Deus pela sua infinita graça e misericórdia, preservou Davi para que se cumprisse Sua aliança estabelecida anteriormente (o trono de Davi permaneceria para sempre).

 Não devemos considerar, entretanto, que Deus livrou Davi da condenação e o deixou impune: primeiro porque o próprio fato de estar afastado de Deus foi penoso para ele; segundo porque a pena de morte que deveria ter sofrido, recaiu sobre seus filhos, aquele que tivera com Bate-Seba mais imediatamente (vs.15 - “o Senhor feriu a criança que a mulher de Urias dera a Davi, de sorte que adoeceu gravemente”) e em seguida, Amnon, Absalão e Adonias.

Conclusão


Como dito anteriormente, a maioria, senão todas as profecias do Antigo Testamento apontam para Cristo ou o evangelho. As profecias eram inspiradas pelo Espírito e nelas não havia engano ou imprecisão. Aqueles que profetizavam tinham profunda certeza de que haviam recebido entendimento divino.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

O Espírito Santo – Parte 1

EBD-Jovens 02/02/2014 – Igreja Batista Emanuel
Baseado nas obras de John Owen, John Gill e Spurgeon
Texto-base: Jo.14

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https://www.dropbox.com/s/uq7oqik0fio5wss/o_espirito_santo_parte1_ebd_02-02-2014.pdf

Introdução


Na última semana, surgiu uma discussão sobre “revelações” no grupo da IBE no WhatsApp. Esse é um assunto importante e que deve ser tratado com diligência, uma vez que o coração pecaminoso do homem é facilmente seduzido e corrompido por qualquer misticismo que ofereça alimento para o orgulho e idolatria de si mesmo. Digo isso pois a queda deflagrou na alma humana uma certa paixão por aquilo que a coloca em posições mais altas, e é isso o que se observa: a elevação do “status” social-religioso para os que supostamente possuem poderes do céu.

Percebe-se, contudo, que apesar dessa necessidade de instrução sobre o assunto, precisamos satisfazer os pré-requisitos da matéria. Parece-me que tudo o que as novas gerações de evangélicos sabem a respeito do Espírito se limita à manifestação de dons miraculosos; ainda, podemos dizer que esse conhecimento, por vezes, é contrário ao ensino da Escritura e às doutrinas históricas saudáveis. Talvez essa seja uma das consequências da difusão da teologia Pentecostal e Neopentecostal nas igrejas brasileiras nas últimas décadas. Essa falta de aplicação ao entendimento mais crucial dos fundamentos bíblicos tem gerado debates tolos e infrutíferos, quando não conclusões precipitadas.

Portanto, antes de estudarmos os dons, faz-se necessário conhecer a terceira Pessoa da Trindade, e o que de fato foram e são Suas obra. Iniciaremos hoje a série de Estudos sobre o Espírito Santo.

Como o Espírito Santo Vem a Nós


Somente Deus é quem nos dá o Espírito, graciosamente (Lc.11:13; 1Jo.3:24).

Deus envia seu Espírito para nós (Jo.14:26); esse “enviar” significa que o Espírito não estava com a pessoa antes de ser enviada a ela.

O diz-se frequentemente que Deus “derrama” o Seu Espírito Santo (At.2:17). Essa expressão é utilizada com referência à época do evangelho, em que Ele concede uma parcela maior do Seu Espírito – o derramar dos dons e das graças do Espírito, e obras especiais como purificação e consolação.

O Espírito Santo


O Espírito Santo é a terceira pessoa da Trindade. Ele também é chamado na Escritura de:

·         Espírito de Deus (Rm.8:14),
·         Espírito do Senhor (At.8:39),
·         Espírito do Filho (Gl.4:6),
·         Espírito de Cristo (Rm.8:9) e
·         Espírito da Verdade (Jo.15:26).
·         Consolador, que será explicado propriamente adiante (Jo.16)


Cada um desses nomes revela a natureza e obras do Espírito. A palavra “Espírito” descreve sua pureza, existência imaterial e santidade.

Cabe aqui uma observação sobre duas expressões comuns nas igrejas, qual sejam:

·         “Sentir a presença do Espírito Santo” e
·         “Ser guiado pelo Espírito Santo.”

Sobre a primeira deve-se dizer que, sendo Ele imaterial não podemos senti-lo como se, alguém estivesse nos tocando ou envolvendo fisicamente; não podemos assumir que seja do Espírito alguma experiência emocional sem razão, à parte da fé em Cristo. Por outro lado, também é importante ressaltar que não devemos assumir, como os gnósticos, que apenas o conhecimento é suficiente. Podemos e deveríamos sentir tristeza ao sermos convencidos do pecado por Ele, assim como podemos desfrutar de imensa paz e conforto quando Ele nos traz iluminação de alguma passagem da Escritura e, finalmente, podemos experimentar alegria indizível na busca pela santidade, sabendo que estamos sendo conformados à imagem de nosso Senhor Jesus.

Sobre a segunda afirmação, lemos em Rm.8:14

Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus.”

Analisando esse versículo, John Gill escreveu:

“Não pelo espírito do mundo, nem pelo diabo, ou por seus próprios espíritos: o ato de guiar atribuído ao Espírito é uma alusão a um guia de pessoas cegas ou daqueles que estão em trevas; ou mesmo a guiar uma criança e ensiná-la a ir; o que supõe vida àqueles que são guiados, e algum grau de força, embora com alguma fraqueza; e é uma demonstração de graça poderosa e eficaz, que é sempre para o bem deles: o Espírito de Deus os guia [para longe ] de seus pecados, e da dependência de suas próprias justiças, em caminhos que nunca conheceram, e pelos quais deveriam ir, no caminho da fé e verdade, de justiça e santidade, em um caminho certo embora algumas vezes acidentado; Ele os guia à pessoa, sangue, e justiça de Cristo e à completa graça n’Ele; à presença de Deus, à casa e ordenanças de Deus; às verdades do Evangelho; de um nível de graça a outro, e finalmente à glória; Ele faz isso gradualmente, de pouco a pouco ele os guia até que vejam seus corações e sua natureza lançadas sobre Cristo e a salvação d’Ele, às doutrinas da graça, e ao amor e favor de Deus [...]”

Ou seja, o Espírito nos guia no caminho da santidade. Não devemos supor que as decisão que precisamos tomar diariamente devam ser baseadas em supostas “revelações proféticas”; porém demos pedir ao Senhor que Seu Espírito nos ilumine e dê conhecimento de Deus e de Sua vontade revelada na Palavra para que tudo em nossas vidas seja para a glória d’Ele.

A Obra do Espírito Santo (o Que Ele Realiza em Nós)


Todas as pessoas da Trindade estão envolvidas na salvação de pecadores, Deus Pai, Seu Filho e Seu Espírito. O Pai planejou a obra, o Filho a consumou na cruz do calvário e o Espírito capacita os pecadores eleitos a crer e recebê-la. Assim, Deus enviou seu Filho que tomou sobre si nossa natureza (sem, contudo, ter pecado) e nela sofrer por nós; e o Espírito para levar pecadores à fé em Cristo e serem salvos.

Através da revelação do Espírito Santo ao nosso coração, podemos conhecer a Cristo (Jo.14:16-17 e 25-26; Jo.15:26). Comentando sobre a última parte do vs.26 de João 15 (“este dará testemunho de mim”), John Gill escreve:

“[...] de Sua divindade e filiação, de Sua encarnação, de ser o Messias, de Seu sofrimento e morte, de sua ressurreição e ascensão, de Sua exaltação à direita do Pai, e de Seu julgamento dos vivos e dos mortos; de tudo isso ele dará testemunho, através dos dons concedidos aos apóstolos, e da grandiosa graça que estava sobre todos eles; através de sinais, maravilhas e diversos milagres, através dos quais o Evangelho de Cristo foi confirmado; e pelo poder, influência e sucesso que atendiam as pregações em todo lugar. Assim, ele testificou de Cristo, contra os Judeus blasfemos, e os Gentios perseguidores, para os reprovar e confundir; e testificou-O também aos apóstolos, e a todos os verdadeiros crentes, para sua grade alegria e conforto, e para fazê-los suportar toda malícia e ira do mundo.”

O Espírito Santo também regenera os pecadores, ou seja, Ele dá vida aos que estão mortos em pecados e delitos (Jo.3:5; Ef.2:1); é quem convence pecadores que o evangelho é verdadeiro e vindo de Deus (comparar Jo.14:6 e Jo.16:7-8). Se o Espírito não operar no pecador a Escritura será inútil; todo o bem resultante da salvação é revelado e dado pelo Espírito pelo entendimento e aceitação da Palavra.

Ele nos santifica capacitando a viver de modo santo e agradável para a glória Deus. A operação do Espírito Santo em nós nos ajuda a cumprir as leis morais de Deus (Jr.31:33 – “aqueles dias” refere-se aos dias do Evangelho, da Nova Aliança, como pode-se entender de Hb.8:8; ver também Hb.10:15-16; Rm.8:1-4; 1Jo.5:1-3). Ele gera frutos de santidade em nós (Gl.5:22)

Além disso, Spurgeon, em sua pregação “O Paracleto” (6 de Outubro de 1872), diz que os significados da palavra “Paracleto” também refletem as obras do Espírito e que podem ser colocados sobre dois pilares: “chamado para” e “chamando para”: Ele foi chamado para nos auxiliar, para nos ajudar com nossas enfermidades, para aconselhar, advogar, guiar, e assim por diante; e nos chama, para nosso próprio benefício, às obras que Ele ordena.

O Pecado Contra o Espírito


É o Espírito Santo que leva pecadores a crerem no sangue de Cristo para remissão de pecados. Se Ele for desprezado e rejeitado, não poderá haver perdão de pecados e salvação, visto que não há outro Espírito que nos faça crer e receber o Evangelho, nem outro Filho para fazer outra expiação por nós.

Conclusão



O Espírito Santo é aquele que substitui a presença de Cristo, de fato, Ele nos une a nosso Senhor que está à direita do Pai. Que não ousemos cobiçar dons miraculosos para satisfação das nossas próprias paixões e idolatria de nós mesmos; que não sejamos insensatos em atribuir os frutos de nossa imaginação ao Santo Espírito. Mas que Deus nos Conceda Seu Espírito, para que sejamos consolados quando afligidos pelas tribulações, fortalecidos para o ministério, ensinados na Escritura, para obedecermos à vontade revelada de Deus em sua Palavra, e, finalmente, para que sejamos conformes à imagem de Cristo. 

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Capítulos 22, 23 e 24 do Catecismo Maior de John Owen traduzido para o português com notas sobre o entendimento batista dos sacramentos.

https://www.dropbox.com/s/mfj0tn32ydgmgz3/catecismo_john_owen.pdf

Outros recursos:
goo.gl/xeNJd

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O Culto Aceitável a Deus

Rafael Abreu

link do documento em .pdf:
https://www.dropbox.com/s/am8xz8eb997774u/culto_aceitavel_a_Deus_ebd_26-01-14.pdf

Introdução


O primeiro mandamento é a exigência de que Deus deve ser o único Senhor dos nossos corações. Como tal, e pelo simples fato de Ele ser Deus, deve ser temido, amado, louvado, crido e servido de todo o coração e de toda alma; devemos lhe prestar culto:

Dt.6:13 [NVI]: “Temam o Senhor, o seu Deus, e só a Ele prestem culto, e jurem somente pelo Seu nome.”

Lc.4:8 [PJFA]: “Respondeu-lhe Jesus: ‘Está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a Ele servirás’.”

 O segundo, por sua vez, e, especificamente, diz respeito à lei moral de Deus contra a idolatria. Porém, mais que proibir o uso de imagens (o sim e o não), o segundo mandamento exige que o culto prestado a Deus seja puro, segundo as ordenanças que Ele próprio estabeleceu em Sua Palavra. É sobre isso que falaremos nesse texto.

Esse assunto tem extrema importância. É triste e preocupante a situação em que nossas igrejas se encontram. Não é preciso muito esforço para observar e ver que a “instituição” ganhou tanta importância que nos esquecemos do fato de que o que se faze nessa instituição é para o dono dela. A igreja moderna se tornou lugar de entretenimento; a simplicidade do culto deu lugar a todo tipo de atividade que, em nome de Deus e sob pretexto de adorá-lo, tenta satisfazer as necessidades dos homens e assemelhar-se ao mundo.

A vontade revelada de Deus


Nós temos pecado por não obedecer a Deus nem conhecer sua Palavra ainda que confessemos com nossas línguas que Ele é soberano e que sua vontade é revelada estritamente na Escritura sagrada. Deus sendo Soberano e infinitamente Santo e Justo é o único que pode instituir a maneira aceitável de ser adorado, afinal, a adoração é d’Ele e o povo de quem recebe a adoração também o é. Por sua bondade e graça, Ele nos revelou sua vontade na Escritura. A Escritura é a regra de fé e prática dos eleitos de Deus, nossas vidas devem ser guiadas por ela e nos foi ordenado que dela nada fosse acrescentado ou diminuído:

                Dt.12:32 [PFJA]: “Tudo o que Eu te ordeno, observarás, nada lhe acrescentarás nem diminuirás.”

Os decretos, ordenanças e mandamentos de Deus são perfeitos; quando os adulteramos com frutos de nossa imaginação e com invenções, estamos dizendo que Ele fez algo que pode ser melhorado, ou seja, que Ele não é infinitamente perfeito ou não é capaz, e até mesmo, que podemos fazer tão bem quanto Ele. Portanto, deveríamos obedecer Sua vontade.

O pecado


No entanto, existe uma doença profundamente enraizada no coração do homem: o pecado. Por causa dele, tentamos cultuar a Deus de maneira que Ele não indicou, com coisas que podem ser sentidas e experimentadas; ele é o responsável por tamanho gesto de arrogância.  O pecado é inimizade contra Deus, e nos torna senhores de nós mesmos; nos faz odiar e rejeitar as coisas puras e santas de Deus e enganosamente servir a nossas próprias vontades, as paixões carnais. Deus é espírito e deve ser adorado em espírito e em verdade (Jo.4:24). Estando morto e caído, o homem naturalmente busca o que esteja de acordo com sua carne. Por mais sinceros que sejamos ao prestar culto a Deus, e acredito que, de fato, milhares de pessoas “adoram” e O buscam nas igrejas com sinceridade, se esse culto não for da maneira que Ele próprio estabeleceu e delineou em sua Palavra, não estamos cultuando, mas insultando ao Senhor.
É importante ter em mente a liberdade que nos foi dada, sim! Mas liberdade do pecado, e não liberdade para pecar oferecendo a Deus o que não lhe agrada. Não podemos nos aproximar de Deus ou ter comunhão pelo caminho do nosso próprio coração, mas segundo a vontade de Deus, da maneira determinada por Ele.

Exemplos Bíblicos

A oferta de Caim


O primeiro exemplo de oferta inaceitável a Deus está registrado em Gênesis, capítulo 4.

Vs.3-5: “Ao cabo de dias trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao Senhor. Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura. Ora, atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta, mas para Caim e para a sua oferta não atentou. Pelo que irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante.”

Por que Deus não aceitou a oferta de Caim? A Bíblia não diz que a oferta de Caim não foi sincera. O fato de “descair-lhe o semblante” dá-nos a entender o contrário, indica que ele estava desapontado.
Deus, ao matar um animal para cobrir Adão e Eva, havia indicado a forma aceitável de sacrifício. No entanto, Caim não ofereceu um animal, mas sim “fruto da terra”. Essa oferta foi uma invenção da mente de Caim. Note que Deus não havia proibido uma oferta de “fruto da terra”, no entanto, estabeleceu que a oferta seria um sacrifício de animal. Devemos observar atentamente as escrituras para não tropeçarmos numa sinceridade enganosa.

Nadabe e Abiú


O livro de Levítico é uma grande prova de que o próprio Deus é quem determina o culto que Lhe agrada. Todos os ritos cerimoniais são minuciosamente prescritos e deveriam ser seguidos à risca pelos levitas, sacerdotes e por todo o povo. No capítulo 10, temos o seguinte registro:

                Vs.1-2: “Ora, Nadabe, e Abiú, filhos de Arão, tomaram cada um o seu incensário e, pondo neles fogo e sobre ele deitando incenso, ofereceram fogo estranho perante o Senhor, o que ele não lhes ordenara. Então saiu fogo de diante do Senhor, e os devorou; e morreram perante o Senhor.”

Nadabe e Abiú ofereceram algo que o Senhor não ordenara. Novamente, não encontramos na Escritura uma proibição para não levar fogo estranho, ou uma regra para levar apenas um certo tipo de fogo. No entanto a passagem deixa claro que eles foram condenados por terem oferecido algo que não foi ordenado. Alguns argumentam que os filhos do sacerdote foram mortos pelo fato de estarem embriagados, porém, essa hipótese não se sustenta pelo que já foi dito, que eles foram consumidos pois apresentaram “o que Ele não lhes ordenara”.

Davi e a arca


Talvez esse seja o relato mais apavorante, a prova final de que a sinceridade e a melhor das intenções do coração do homem são como nada se não houver obediência à vontade de Deus.

                Vs.3-7: “Puseram a arca de Deus em um carro novo, e a levaram da casa de Abinadabe, que estava sobre o outeiro; e Uzá e Aiô, filhos de Abinadabe, guiavam o carro novo. Foram, pois, levando-o da casa de Abinadabe, que estava sobre o outeiro, com a arca de Deus; e Aiô ia adiante da arca. E Davi, e toda a casa de Israel, tocavam perante o Senhor, com toda sorte de instrumentos de pau de faia, como também com harpas, saltérios, tamboris, pandeiros e címbalos. Quando chegaram à eira de Nacom, Uzá estendeu a mão à arca de Deus, e pegou nela, porque os bois tropeçaram. Então a ira do Senhor se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali; e Uzá morreu ali junto à arca de Deus.”

O povo levava a arca alegremente, com louvores a Deus. Por que Deus matou Uzá? Davi e o povo levaram a arca de maneira que Deus não havia ordenado. Em lugar algum da Escritura há uma proibição contra levar a arca num carro de boi, no entanto, a ordem de Deus era que a arca deveria ser levada pelos levitas em seus ombros (Nm.7:9).

O ritual dos fariseus


Mt.15:1-3: “Então chegaram a Jesus uns fariseus e escribas vindos de Jerusalém, e lhe perguntaram: Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? pois não lavam as mãos, quando comem. Ele, porém, respondendo, disse-lhes: E vós, por que transgredis o mandamento de Deus por causa da vossa tradição?”

A lei de Deus dada a Moisés estabeleceu lavagens como símbolo de purificação, mas a lavagem das mãos não era uma delas. Os fariseus, por melhores que tenham sido suas intenções, acrescentaram sua própria vontade à lei sagrada.

A consequência


O pecado de acrescentar ao culto o que não foi ordenado, além de obviamente causar a rejeição do culto por parte de Deus, nos leva ao antropocentrismo. Cristo deixa de ser o centro; o centro passa a ser o homem e a instituição. Por causa disso, surge o “falso evangelismo”. Busca-se formas de “atrair” pessoas para a igreja ou, ainda, manter os membros, satisfazendo suas vontades fúteis e desagradando ao Senhor do culto. O falso evangelismo é um dos mais terríveis enganos da igreja contemporânea: a igreja adequa-se aos padrões mundanos e à vontade dos homens, para chamar a atenção e entreter os não regenerados. Se estes “vêm” à Cristo não é pelo poder da pregação do Evangelho nem pela fé salvadora em Cristo. Os membros da igreja permanecem membros não pela sã doutrina, mas pelo ambiente que agrada a seus corações corruptos. Há maneira mais terrível de prostituir o corpo de Cristo? Culto só é verdadeiro quando coloca Deus em seu devido lugar e nós no nosso.

O culto aceitável


O culto aceitável é simples, Cristocêntrico e obedece humildemente à vontade soberana de Deus. Os elementos ordenados por Deus para culto de sua própria glória são (foram citados apenas alguns versículos que apontam para os cultos na igreja primitiva):

Pregação da Palavra: Mc.16:15 / At.9:20 / At.20:8-9
Leitura Bíblica: At.13:15 / 1Tm.4:13
Reunião no Dia do Senhor: At.20:7 / 1Co.16:2
Sacramentos (Ceia e Batismo): Mt.26:26-29 / Mt.28:19 / 1Co.11:24-16
Oração: Fp.4:6 / 1Ts.5:17 / Hb.13:18
Cântico de Salmos, hinos e cânticos espirituais: Ef.5:19 / Cl.3:16

Conclusão


Sem sombra de dúvidas, na maioria de nossas igrejas o culto que prestamos a Deus não foi o estabelecido nas escrituras. Será ele aceitável a Deus? Responda as seguintes perguntas: você já se perguntou por que cultua a Deus da maneira como o faz hoje? Você já estudou a Bíblia com o objetivo de saber qual a vontade revelada de Deus quanto à forma de culto que a Ele deve ser prestado? Quais formas de culto no Templo (A.T.)? Essas práticas foram abolidas com o sacrifício de Cristo? Qual a forma de culto nas Sinagogas, na igreja primitiva (N.T.)? Ore e peça que o Senhor lhe dê discernimento. Reflita sobre as seguintes práticas:

Teatros, danças litúrgicas, corais, “solos”, instrumentos musicais, aplausos para Jesus, apresentação de crianças, colocar a mão no coração, e tudo quanto fazemos em nossas igrejas.

“A luz da natureza mostra que existe um Deus, que tem senhorio e soberania sobre todos, que é justo, bom, e faz o bem a todos; e que, portanto, deve ser temido, amado, louvado, invocado, crido e servido, de todo o coração, de toda alma, e com todas as forças. Mas a maneira aceitável de se cultuar o Deus verdadeiro é aquela instituída por Ele mesmo, e que está bem delimitada por sua própria vontade revelada, para que Deus não seja adorado de acordo com as imaginações e invenções humanas, nem com as sugestões de Satanás, nem por meio de qualquer representação visível ou qualquer outro modo não descrito nas Sagradas Escrituras.” – Confissão de Fé Batista de 1689

"Portanto, o fim deste mandamento [segundo] é que Deus não quer que Seu legítimo culto seja profanado mediante ritos supersticiosos [...] E, daí, nos instrui a Seu legítimo culto, isto é, ao culto espiritual e estabelecido por Si Próprio. Assinala, ademais, o que é mais grosseiro defeito nessa transgressão: a idolatria exterior." – João Calvino

“Devemos por isso concluir que nenhuma de nossas devoções será aceitável a Deus a menos que esteja conformada à Sua vontade. Tal preceito lança por terra todas as invenções humanas que é tão cheio de pompa e tolice. Diante de Deus tudo isso nada mais é que puro lixo e verdadeira abominação [...] Querer adorar segundo nossas próprias ideias é simplesmente abuso e corrupção [...] Precisamos ter o testemunho da sua vontade para seguirmos e submetermo-nos àquilo que nos tem ordenado. É assim que a adoração que prestamos a Deus será aprovada.” – João Calvino


Que o Senhor tenha misericórdia de nós.
Glória somente a Deus.


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quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

O Contexto do Texto:
Quando a Solução Vira Problema


Não é segredo que a teologia dos cristãos brasileiros vai mal das pernas. Não estou dizendo que a teologia fundamentalmente bíblica seja diferente em cada nação e, por conseguinte, que as verdades sagradas sejam melhores em determinados lugares que em outros. Tampouco, quero acusar todos os fiéis de nosso país de iletrados e ignorantes, embora queira dizer que a maioria de fato é. Subentende-se, pela expressão “ir mal das pernas”, que existe uma doença no corpo, embora o corpo não esteja morto em si, afinal, se assim estivesse não poderia andar. É claro, não creio que seja possível que a igreja brasileira esteja morta, visto que nosso gracioso e soberano Deus sustenta e preserva seus remanescentes. Ora, se o corpo não está morto, algo lhe resta de saudável, e é precisamente por isso, pelo fato de haver quem ensine a verdadeira, pura e simples palavra que peço que interpretem a primeira afirmação com cautela.

Teologia de má qualidade é produzida por dois fatores, e o principal deles, como não poderia ser diferente, é o espiritual. Essa verdade é incontestável e confirmada pelas Escrituras:

“Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.” – 1Co.2:14

“Mas, se ainda o nosso evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto. Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.” – 2Co.4:3-4

Outro causador de terríveis e infames mazelas, é a negligência quanto ao uso do conhecimento “secular”. Tal negligência se dá de duas maneiras:

      1)  Quando se tem notável conhecimento de algum ramo da ciência e o mesmo subjuga a fé. Nesse caso, o processo de racionalização da fé se dá de maneira incorreta e o entendimento “natural” guia o espiritual. Os pressupostos de quem comete esse erro são aqueles adquiridos da ciência e estão acima das verdades bíblicas; assim, quaisquer questões difíceis são colocadas à prova não pela própria Palavra, mas pelo que se sabe da “ciência”.

      2)  Quando não se tem o mínimo de conhecimento dessas matérias e a análise dos textos bíblicos é guiada pela intuição do intérprete ou métodos duvidosos. Nesse caso é bem comum que se queira estudar hermenêutica, exegese, grego, hebraico e afins sem condições necessárias para tal. Um “salto maior que as pernas”.

O que se vê é um completo descaso com ferramentas dadas por Deus para auxílio na compreensão de Sua palavra. O resultado é desastroso: péssimos intérpretes comunicando o sagrado entre si, sem se compreenderem e sem compreenderem a Bíblia; pessoas sinceras mas equivocadas.

Pode-se observar que, efeito de um ou outro dos fatores citados acima, a falha mais comum ocorre quando o versículo é interpretado à parte do seu contexto. Desconsidera-se a situação em que ocorrem os fatos e daí surge o caos na percepção das verdades do evangelho.  Como se não bastasse esse tipo grotesco de erro apenas, há também quem transforme a solução em problema: nem um versículo por si só expressa verdades do evangelho. Despreza-se todo e qualquer versículo isolado mesmo que dele se extraia exatamente o que o autor queria dizer. (de forma alguma deve-se ignorar o contexto, mas interessante seria imaginar o mundo cristão sem comentários bíblicos versículo a versículo ou pregações expositivas preparadas sem auxílio do método de análise do versículo e o método analítico de estudo). Enfim, uma enxurrada de atrocidades místicas derivadas de devaneios de mentes descuidadas ou de corações perversos e impiedosos que perscrutam a palavra de Deus a fim de encontrar respaldo para suas práticas pecaminosas. Para esses dois tipos de erro, seguem os exemplos abaixo:

1)  1 Coríntios 8. Muitos têm a ousadia de utilizarem-se do texto como argumento favorável a atos pecaminosos desde que os mesmos não escandalizem a seus próximos. Assim, tudo é permitido desde que não haja algum irmão “fraco” por perto. É permitido falar palavrões (expressamente condenados em Ef.4:29, Ef.5:3-7, Mt.12:34-37, 1Co.15:33, Cl.3:8); é permitido fornicar (1Co.6:13, 1Co.5:1-13, Gl.5:19-21, Ap.21-8) desde que para determinado meio social, o sexo entre namorados não seja motivo de escândalo e também é permitido mentir (Jo.8:44, Ef.4:25, Ap.22:15), desde que todos seus amigos sejam mentirosos.

 2)   Mateus 23:33. No contexto, Jesus adverte a multidão a não agir como os escribas e fariseus que conheciam toda a lei e severamente a impunham ao povo quando eles próprios não a cumpriam. Eram falsos mestres que viviam de aparência; conheciam a teoria mas não a prática; hipócritas, orgulhosos, maldosos e perversos que destilavam seu veneno sem temor. No vs. 33 Jesus os chama de “serpentes” e “raça de víboras” e assim são todos os inimigos da cruz de Cristo, caluniadores, blasfemadores, zombadores e ímpios, tanto os que conhecem o evangelho e não foram regenerados quantos os descrentes. Alguns, entretanto, querendo tratar lobos que estraçalham ovelhas com carícias, se sentem incomodados com tais acusações firmes e sob pretexto de amor e respeito ignoram que o próprio Cristo assim chamou essa espécie torpe, ignoram que o próprio Cristo é pedra de tropeço e escândalo para aqueles que foram preparados para a condenação eterna.

 3)   1 Coríntios 6:19. Sugerem alguns que “o corpo é templo do Espírito Santo” é uma afirmação que deve ser considerada apenas quanto ao assunto que Paulo tratava, a imoralidade sexual, e portanto, não cabe em debates sobre outras questões que envolvem o corpo (tais como alimentação saudável, esportes violentos ou tatuagens). Cometem tal erro por não observar que o corpo ser habitação de Deus é a premissa usada por Paulo para concluir que que a imoralidade sexual é pecado. Logo, o fato de o corpo ser habitação de Deus independe do contexto do texto, o que é confirmado por outras passagens que dizem o mesmo em contextos diferentes (1Co.3:16, Rm.8:9, 2Tm.1:14).


Portanto, sejamos diligentes no estudo do Evangelho. Digo isso principalmente a líderes que foram separado pelo próprio Deus para ensinar e proclamar o evangelho aos ignorantes; não sejam também vocês ignorantes!

Soli Deo Gloria


Rafael Abreu

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Às Moças

Renan Abreu


            Presenciei cenas que me fizeram pensar como temos desonrado a Deus, por isso uma tristeza enorme abateu meu coração. Este texto não é algo que eu diga: “Oh! Veio a mim por revelação, algum sopro misterioso” e muito menos “Veio a mim sonhos da parte de Deus”; antes, foi tão somente uma reflexão após a leitura de alguns posts do Facebook. É de grandíssimo desejo para mim que as palavras descritas abaixo reflitam o amor que tenho pelos jovens cristãos; não que isto limite a leitura aos jovens, pois desejo que seja de proveito para toda a igreja de Cristo. Percebam também que não me julgo melhor que ninguém, antes, confesso que careço da glória de Deus como qualquer outro jovem. Faço das palavras do apóstolo Paulo as minhas: “Miserável homem que sou”, não obstante, digo: “Graças a Deus por Cristo Jesus”!

            Quão preocupante se tornou as publicações de fotos e frases no Facebook. Por acaso esqueceram a quem servem? Ou a quem devem honra? Será se Cristo é, de fato, glorificado com as postagens? Vocês se esqueceram das palavras do apóstolo Paulo? “Quer comais, bebais ou façais qualquer outra coisa façam para a glória de Deus”! Por acaso, Deus é glorificado quando vocês postam fotos sensuais ou frases obscenas? As mulheres, cometem um grave pecado quando publicam fotos que denigrem seus próprios corpos. Fotos com seios, coxas, barrigas, pernas e outras partes do corpo despidas e que induzem o pecado nos homens. Não entendem que estão despertando os adolescentes para pensamentos impuros, os rapazes para o sexo egoísta e os homens casados para o divórcio. Esse pecado é grave e trará a ira de Deus! Entristeço, quando na igreja, moças lindas provocam o pecado sexual. Decotes que mostram grande parte dos seus corpos. Parece-me que não conhecem o provérbio de Salomão: “Como um anel de ouro em um focinho de porco, assim é a mulher bonita mas indiscreta”.

            Vocês estão adorando seus próprios corpos, preocupadas com malhação, silicones, enfeites mil e se esqueceram que o coração cheira mal como carne podre. Não percebem que a “beleza é passageira” mas a alma é eterna? Precisamos entender que os escândalos, como a própria palavra de Cristo afirma, serão inevitáveis, mas “aí por quem vier os escândalos”. É necessário vigiar para não provocarmos a morte de algum próximo. Queiram possuir a beleza intrínseca que vem apenas da Glória do Pai. Além do mais, os corpos de vocês devem ser o templo do Espírito Santo. É no mínimo incoerente o templo de Cristo permanecer sujo! Cristo há de limpá-lo! Entenda que se não houver arrependimento Ele executará uma severa disciplina porque “Deus disciplina a quem Ele ama”. Não por vergonha ou medo mas por amor a Cristo, retirem suas fotos sensuais, de cunho pornográfico ou que despertam, de alguma forma, a corrupção moral do homem. Isto é muito sério, não foi por pouca coisa que José, quando atraído por uma bela mulher, fugiu. Não é sem razão que a bíblia manda que seus filhos fujam da prostituição. Mulheres, o homem tem uma fraqueza muito grande neste quesito; se não for o Espírito Santo para vencer por nós, jamais venceremos! Reflitam sobre isso, se é perigoso para os filhos de Deus – vejam o exemplo de Davi – quanto mais aos que não conhecem Cristo!


            Para concluir, suplico, mantenham suas vidas guiadas pelas palavras de Jesus. Criem o hábito de manter uma meditação diária da bíblia. Procurem a santificação no livro de Provérbios. Pensem na paixão de Cristo, nos evangelhos. Meditem no amor das cartas pastorais de Paulo. Lembrem-se da ira de Deus no Pentateuco. Pasmem com a destruição de Judá e Israel em II Reis. Alegrem-se na salvação e glorificação final de e em Cristo! Não entreguem seus corpos a Satanás, pelo contrário, Sejam Santas porque Nosso Deus É Santo.

Um Chamado à Triagem Teológica e Maturidade Cristã

R. Albert Mohler Jr.
(Tradução: Rafael Abreu)


Em todas as gerações, a igreja é ordenada a “batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos.” Essa não é uma tarefa fácil, e é dificultada pelos múltiplos ataques às verdades Cristãs que marcam a era contemporânea. Investidas contra a fé Cristã não são mais direcionadas apenas a doutrinas isoladas. Toda estrutura da verdade Cristã está, agora, sob ataque por aqueles que subvertem a integridade teológica do Cristianismo.

Os Cristãos de hoje se deparam com a assustadora tarefa de elaborar estratégias que priorizem doutrinas Cristãs e questões teológicas em termos de nosso contexto contemporâneo. Isso se aplica tanto à defesa pública do Cristianismo em vista do desafio secular e da responsabilidade interna de lidar com divergências doutrinárias. Nenhuma delas é tarefa fácil, mas a seriedade teológica e a maturidade demandam que consideremos questões doutrinárias em termos de sua relativa importância. A verdade de Deus deve ser defendida em todo ponto e em cada detalhe, mas Cristãos responsáveis devem determinar quais questões merecem maior atenção em um tempo de crise teológica.

Há alguns anos, uma ida ao atendimento de emergência de um hospital, me alertou para uma ferramenta intelectual muito útil para a realização de nossa responsabilidade teológica. Recentemente médicos de emergência têm praticado uma disciplina conhecida como triagem – um processo que permite o pessoal treinado a fazer uma rápida avaliação da prioridade médica em questão. Dado o caos da área de atendimentos de urgência, alguém deve estar munido de expertise médica para determinar imediatamente a prioridade médica. Quais pacientes devem ser encaminhados à cirurgia? Quais pacientes podem esperar por um exame menos urgente? Os médicos não podem hesitar ao fazerem essas perguntas, e ao assumir a responsabilidade de dar os pacientes com necessidades mais críticas prioridade mais alta em termos de tratamento.

A palavra triagem vem da palavra francesa “trier”, que significa “classificar”. Desse modo, o responsável pela triagem no contexto médico é o agente da linha de frente para decidir quais pacientes precisam de tratamento mais urgente. Na ausência de tal processo, o joelho esfolado seria considerado tão urgente quanto um ferido à bala no peito. A mesma ideia que traz ordem à agitada arena do atendimento de emergência também pode oferecer grande ajuda aos Cristãos que defendem a fé nos dias presentes.

Uma disciplina de triagem teológica requer que Cristãos determinem uma escala de urgência teológica que corresponde ao quadro do mundo da medicina para prioridades médicas. Com isto em mente, sugiro três diferentes níveis de urgência teológica, cada uma correspondente a um conjunto de questões teológicas prioritárias encontradas em debates doutrinários.

Questões teológicas de primeiro nível incluiriam aquelas doutrinas mais centrais e essenciais à fé Cristã. Entre estas doutrinas mais cruciais estariam aquelas tais quais a da Trindade, a completa deidade e humanidade de Jesus Cristo, justificação pela fé, e a autoridade da Escritura.

Nos primeiros séculos do movimento Cristão, hereges direcionaram seus mais perigosos ataques ao entendimento da igreja sobre quem Jesus é, e em que sentido Ele é o próprio Filho de Deus. Outro debate crucial se preocupou com a questão de qual a relação do Filho com o Pai e o Espírito Santo. Os antigos credos e concílios da igreja foram, em essência, medidas de emergência tomadas para proteger o âmago da doutrina Cristã. Em momentos importantes da história tais como o concílio de Nicéia, Constantinopla, e Calcedônia, a ortodoxia foi reivindicada e heresias foram condenadas – e estes concílios lidaram com doutrinas de importância inquestionável. O Cristianismo permanece ou cai dependendo do que se afirmar sobre Jesus Cristo ser completamente homem e completamente Deus.

A igreja se moveu rapidamente para afirmar que a completa divindade e completa humanidade de Jesus Cristo são absolutamente necessárias para a fé Cristã. Qualquer negação do que se tornou conhecido como Cristologia de Nicéia-Calcedônia é, por definição, condenada como heresia. As verdades essenciais da encarnação incluem a morte, sepultamento, e a ressureição do corpo do Senhor Jesus Cristo. Aqueles que negam estas verdades reveladas são, por definição, não Cristãos.

O mesmo é verdade para a doutrina da Trindade. A igreja primitiva clarificou e codificou seu entendimento do único Deus vivo afirmando a completa divindade do Pai, do Filho, e do Espírito Santo – enquanto que insistia que a Bíblia revela um Deus em três pessoas.

Além das doutrinas Cristológica e Trinitariana, a doutrina da justificação pela fé deve, também, ser incluída entre estas verdades de primeiro escalão. Sem estra doutrina, somos deixados com uma negação do próprio evangelho, e a salvação é transformada em alguma justiça humana. A veracidade e autoridade das Sagradas Escrituras deve também ser considerada como doutrina de primeira ordem, pois, sem a afirmação de que a Bíblia é a própria Palavra de Deus, somos deixados sem nenhuma autoridade adequada para distinguir verdade do erro.

Estas doutrinas de primeira ordem representam as verdades mais fundamentais da fé Cristã, e a negação destas doutrinas representa nada menos que a negação do Cristianismo em si mesmo.
O conjunto de doutrinas de segunda ordem é distinto do de primeira ordem pelo fato de que Cristãos fiéis podem discordar das questões de segunda ordem, embora esta divergência crie divisões significativas entre os crentes. Quando Cristãos se organizam em congregações e denominações, estas divisões se tornam evidentes.

Questões de segunda ordem incluem o significado e modo do batismo. Batistas e Presbiterianos, por exemplo, descordam fervorosamente sobre o mais básico entendimento do batismo Cristão. A prática do pedobatismo é inconcebível às mentes dos Batistas, enquanto que os Presbiterianos atribuem o pedobatismo ao seu mais básico entendimento da aliança. Reconhecendo juntos as doutrinas de primeira ordem, Batistas e Presbiterianos avidamente reconhecem uns aos outros como Cristãos, mas reconhecem também que desacordos em questões desta importância impedem a comunhão dentro da mesma congregação ou denominação.

Cristãos das mais variadas denominações podem permanecer juntos nas doutrinas de primeira ordem e reconhecer uns aos outros como Cristãos autênticos, enquanto que o entendimento de que existem divergências em questões de segunda ordem impede uma comunhão mais ávida que de outra forma, desfrutaríamos. Uma igreja reconhecerá o batismo infantil ou não. Esta escolha cria imediatamente um conflito de segunda ordem com aqueles que têm convicção da posição contrária.

Há alguns anos, a questão da mulher servir como pastora emergiu como outra questão de segunda ordem. Novamente, uma igreja ou denominação pode ordenar mulheres ao pastorado ou não. Questões de segunda ordem impedem a fácil adaptação daqueles que preferem a outra abordagem. Muitos das mais calorosas divergências entre crentes sérios se encontram no nível da segunda ordem, pois estas questões enquadram nosso entendimento da igreja e as orientações dadas a ela pela Palavra de Deus.

Questões de terceira ordem são doutrinas sobre as quais os Cristãos podem discordar e, mesmo assim, permanecerem em comunhão próxima, mesmo dentro de congregações locais. Eu colocaria a maioria dos debates sobre escatologia, por exemplo, nessa categoria. Cristãos que afirmam a corpóreo, histórico e vitorioso retorno do Senhor Jesus Cristo podem discordar da sequência dos acontecimentos sem romper a comunhão da igreja. Eles podem discordar sobre um grande número de questões relacionadas à interpretação de textos difíceis ou sobre o entendimento de assuntos de discordância comum. Porém, permanecendo juntos em questões de importância mais urgente, os crentes são capazes de aceitar uns aos outros enquanto questões de terceira ordem estão em debate.

Uma estrutura de triagem teológica não implica que os Cristãos devam considerar qualquer verdade bíblica com pouca seriedade. Somos responsáveis por abraçar e ensinar a veracidade compreensiva da fé Cristã como revelada nas Santas Escrituras. Não há doutrinas insignificantes reveladas na Bíblia, mas existe um fundamento essencial da verdade que embasa todo o sistema de verdade bíblica.

Esta estrutura de triagem teológica também pode ajudar a explicar como a confusão pode, frequentemente, ocorrer em meio a um debate doutrinário. Se a urgência relativa destas verdades não são levadas em conta, o debate pode rapidamente se tornar inútil. O erro do liberalismo teológico é evidente em um desrespeito básico à autoridade bíblica. A marca do verdadeiro liberalismo é a recusa em admitir que questões teológicas de primeira ordem até mesmo existem. Liberais tratam doutrinas de primeira ordem como se fossem meramente de terceira ordem em importância, e ambiguidade doutrinária é o resultado inevitável.

Fundamentalismo, por outro lado, tende ao erro oposto. O equívoco do verdadeiro fundamentalismo é acreditar que todas discordâncias são de primeira ordem. Assim, questões de terceira ordem são colocadas com importância de primeira ordem e Cristãos são erroneamente prejudicialmente divididos.


Viver em uma era em que as doutrinas são amplamente negadas e de intensa confusão teológica, Cristãos estudiosos devem enfrentar o desafio da maturidade Cristã, mesmo em meio de uma emergência teológica. Devemos ordenar as questões com uma mente treinada e coração humilde para proteger o que o Apóstolo Paulo chamou de “tesouro” que foi confiado a nós. Dada a urgência desse desafio, a lição do Atendimento Médico de Urgência só pode ajudar.

domingo, 22 de setembro de 2013

Voltando ao Verdadeiro Culto


R. Albert Mohler Jr.
20 de Setembro, 2013

Em Os Irmãos Karamazov*, o Grande Inquisidor de Fiódor Dostoiévski oferece esta visão da natureza humana caída: “Porque não há para o homem que ficou livre cuidado mais constante e mais doloroso do que o de procurar um ser diante do qual se incline.”

Apesar de o Grande Inquisidor falhar como guia confiável de Teologia, nesse ponto ele está correto. Seres humanos são profundamente religiosos – mesmo quando não sabemos que somos – e buscam incessantemente um objeto de adoração.

Ainda, seres humanos são pecadores, e portanto nosso culto é, com frequência, fundamentado em nosso próprio paganismo de preferência pessoal. O coração humano caído é, de fato, uma “fábrica de ídolos”, sempre produzindo novos ídolos para adoração e veneração. Esta fábrica corrompida, entregue a seus próprio meios, nunca produzirá adoração verdadeira, mas ao invés disso, adorará suas próprias invenções.

Porém os Cristãos são aqueles que foram redimidos pelo sangue do cordeiro, incorporados ao corpo de Cristo e chamados ao verdadeiro culto, regulado e autorizado pela Escritura. Adoração é o propósito para o qual fomos feitos – e apenas os redimidos podem adorar o Pai em espírito e em verdade.

Mas adoramos?

O filósofo britânico Roger Scruton uma vez advertiu seus companheiros filósofos que a melhor maneira de entender o que as pessoas realmente acreditam sobre Deus é observá-las no culto. Livros de Teologia e declarações doutrinárias podem revelar o que uma congregação diz que acredita, mas o culto revelará em que ela realmente acredita. Considerando isso, estamos em grandes apuros.

Anos atrás, A. W. Tozer lamentou que muitas igrejas concebem a adoração como “o máximo de entretenimento e o mínimo de instruções sérias”. Muitos cristãos, ele argumentou, nem mesmo reconheceriam o culto como “uma reunião onde a única atração é Deus”. Verdade 50 anos atrás, estas palavras agora servem como acusação direta ao culto contemporâneo.

Adoração é o propósito para o qual fomos feitos – e apenas os redimidos podem adorar o Pai em espírito e em verdade.

Do ponto de vista mundano, devemos encarar o fato de que o modernismo fez desabar transcendência em muitas mentes. O foco do culto foi “horizontalizado” e reduzido à escala humana. O culto foi transformado em um experimento cujo “significado” é definido por quem presta culto, não um ato de alegre submissão à maravilha e grandeza Deus.

Embora todos os cristãos afirmem a necessidade e realidade da dimensão experimental da fé, a experiência deve ser fundamentada e sujeita à Palavra de Deus.

Hughes Oliphant Old uma vez resumiu o culto cristão em termos do “senso da majestade e soberania de Deus, senso de reverência, de dignidade simples; convicção de que a adoração deve, acima de tudo, servir ao louvor de Deus.” Como Old reconheceu, este caminho para a renovação “pode não ser exatamente o que todo mundo está procurando.”

Procurando isto ou não, este é o único caminho de volta ao culto que Deus busca.

Traduzido por Rafael Abreu

 
*Os Irmãos Karamazov é um romance de Fiódor Dostoiévski; um clássico da literatura russa escrito em 1879.

 

Albert Mohler Jr. é reconhecido como um dos líderes mais influentes dos Estados Unidos pelas revistas “Time” e “Christianity Today”. Possui um programa no rádio que é transmitido em mais de 80 estações em todo o país. É presidente da escola mais importante da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos, a Southern Baptist Theological Seminary.